Comentários de Mateus 27
Cristianismo

Comentários de Mateus 27


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Este capítulo faz parte da obra: “O Novo Testamento Comentado”, de autoria de Lucas Banzoli e de livre divulgação.
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1. E vinda a manhã, juntamente tomaram conselho todos os chefes dos sacerdotes, e anciãos do povo, contra Jesus, para o matarem.
2. E o levaram amarrado, e o entregaram a Pôncio Pilatos, o governador.
3. Então Judas, o que o havia traído, vendo que já estava condenado, voltou, arrependido, as trinta [moedas] de prata aos chefes dos sacerdotes, e aos anciãos;
4. Dizendo: 
Pequei, traindo o sangue inocente. 
Porém eles disseram: 
Que [interessa isso] a nós? Vê-o tu.
5. E lançando ele as [moedas] de prata no Templo, partiu-se, e foi, e enforcou-se.
6. E os chefes dos sacerdotes, tomando as [moedas] de prata, disseram: 
Não é lícito pô-las na arca das ofertas, porquanto preço de sangue é.
7. E tomando conselho juntamente, compraram com elas o campo do Oleiro, para sepultura dos estrangeiros.
8. Pelo que aquele campo foi chamado campo de sangue, até o dia de hoje.
9. Então se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias, que disse: 
E tomaram as trinta [moedas] de prata, preço avaliado pelos filhos de Israel, ao qual eles avaliaram.
10. E as deram pelo campo do Oleiro, segundo o que me mandou o Senhor.
11. E Jesus esteve diante do governador, e o governador perguntou-lhe, dizendo: 
És tu o Rei dos Judeus? e Jesus lhe disse: Tu [o] dizes.
12. E sendo acusado pelos chefes dos sacerdotes e os anciãos, nada respondeu.
13. Pilatos então lhe disse: 
Não ouves quantas [coisas] testemunham contra ti?
14. E não lhe respondeu nem uma só palavra, de maneira que o governador se maravilhava muito.
15. E na festa costumava o governador soltar um preso ao povo, qualquer que quisessem.
16. E tinham então um preso bem conhecido, chamado Barrabás.
17. Juntos pois eles, disse-lhes Pilatos: 
Qual quereis que vos solte? A Barrabás, ou a Jesus, que é chamado Cristo?
18. Porque sabia que por inveja o entregaram.
19. E estando ele sentado no tribunal, sua mulher enviou a ele, dizendo: 
Nada [faças] tu com aquele justo; porque hoje sofri muitas coisas em sonhos por causa dele.
20. Mas os chefes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram às multidões que pedissem a Barrabás, e a Jesus matassem.
21. E respondendo o governador, disse-lhes: 
Qual destes dois quereis que vos solte? 
E eles disseram:
A Barrabás.
22. Pilatos lhes disse: 
Que pois farei [de] Jesus, que é chamado Cristo? 
Disseram-lhe todos: 
Seja crucificado.
23. Porém o governador disse: 
Pois que mal tem feito? 
E eles clamavam mais, dizendo: 
Seja crucificado!
24. Vendo pois Pilatos que nada aproveitava, antes se fazia mais tumulto, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: 
Inocente estou do sangue deste justo; vede-o vós.
25. E respondendo todo o povo, disse: 
Seu sangue [venha] sobre nós, e sobre nossos filhos.
26. Então soltou-lhes a Barrabás; porém havendo açoitado a Jesus, o entregou para ser crucificado.
27. Então os soldados do governador, levando a Jesus consigo ao salão do pretório, reuniram-se a ele toda a agrupamento de soldados.
28. E despindo-o, cobriram-no com uma capa vermelha.
29. E tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na sobre a sua cabeça, e uma cana em sua [mão] direita, e pondo-se de joelhos diante dele, zombavam dele, dizendo: 
Tenhas alegria, Rei dos Judeus!
30. E cuspindo nele, tomaram a cana, e davam-lhe [com ela] na cabeça.
31. E depois que o haviam escarnecido, despiram-lhe a capa, e o vestiram com suas roupas, e o levaram para crucificar.
32. E saindo, acharam a um homem de Cirene, por nome Simão; a este obrigaram para que levasse sua cruz.
33. E chegando ao lugar chamado Gólgota, que se diz o lugar da Caveira,
34. Deram-lhe a beber vinagre misturado com fel; e experimentando[-o], não [o] quis beber.
35. E havendo-o crucificado, repartiram suas roupas, lançando sortes; para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: 
Repartiram entre si minhas roupas, e sobre minha túnica lançaram sortes.
36. E tendo se sentando, vigiavam-no ali.
37. E puseram por cima de sua cabeça, sua causa escrita: ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS.
38. Então foram crucificados com ele dois ladrões, um à direita, e outro à esquerda.
39. E os que passavam, blasfemavam dele, balançando suas cabeças;
40. E dizendo: 
Tu, que derrubas o Templo, e em três dias [o] reedificas, salva a ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz.
41. E da mesma maneira também os chefes dos sacerdotes, com os escribas, e anciãos, escarnecendo [dele], diziam:
42. A outros salvou, a si mesmo não pode salvar. Se é Rei de Israel, desça agora da cruz, e creremos nele.
43. Confiou em Deus, livre-o agora, se [bem] lhe quer; porque disse: 
Sou Filho de Deus.
44. E também lhe insultavam os ladrões que com ele estavam crucificados.
45. E desde a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra até a hora nona.
46. E perto da hora nona clamou Jesus com grande voz, dizendo: 
ELI, ELI, LAMÁ SABACTÂNI; 
Isto é: 
Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?
47. E alguns dos que ali estavam, ouvindo[-o], diziam: Este chama a Elias.
48. E logo correndo um deles, tomou uma espada, e enchendo[-a] de vinagre, pô-la em uma cana, e dava-lhe de beber.
49. Porém os outros diziam: 
Deixa, vejamos se Elias vem para livrá-lo.
50. E Jesus clamando outra vez com grande voz, deu o espírito.
51. E eis que o véu do Templo se rasgou em dois, de cima até baixo, e a terra tremeu, e as pedras se fenderam.
52. E os sepulcros se abriram, e muitos corpos de santos, que dormiram, foram ressuscitados.
53. E saídos dos sepulcros, depois de sua ressurreição, vieram à santa cidade, e apareceram a muitos.
54. E o centurião, e os que com ele vigiavam a Jesus, vendo o terremoto, e as coisas que haviam sucedido, temeram em grande maneira, dizendo: 
Verdadeiramente Filho de Deus era este.
55. E estavam ali muitas mulheres olhando de longe, as quais desde a Galileia haviam seguido a Jesus, servindo-o.
56. Entre as quais estava Maria Madalena, e Maria mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.
57. E vinda já a tarde, veio um homem rico de Arimateia, por nome José, o qual também era discípulo de Jesus.
58. Este chegou a Pilatos, e pediu o corpo de Jesus. Então Pilatos mandou que o corpo [se lhe] desse.
59. E tomando José o corpo, embrulhou-o em um lençol limpo fino, 
60. E o pôs em seu sepulcro novo, que tinha lavrado em uma rocha; e revolvendo uma grande pedra à porta do sepulcro, foi embora.
61. E estava ali Maria Madalena, e a outra Maria, sentadas de frente ao sepulcro.
62. E no dia seguinte, que é depois da preparação, reuniram-se os chefes dos sacerdotes, e os fariseus a Pilatos,
63. Dizendo: 
Senhor, nos lembramos que aquele enganador, enquanto ainda vivia, disse: 
Depois de três dias serei ressuscitado.
64. Manda pois que o sepulcro esteja em segurança até o dia terceiro, para que não aconteça de seus discípulos virem de noite, e o furtem, e digam ao povo que ele ressuscitou dos mortos; e [assim] o último engano será pior que o primeiro.
65. E Pilatos lhes disse: 
Vós tendes a guarda; ide, fazei segurança como o entendeis.
66. E eles, tendo ido, fizeram segurança no sepulcro com a guarda, selando a pedra.



27.2 o entregaram a Pôncio Pilatos. Como os judeus não tinham autorização do império romano para condenar alguém à pena de morte, eles tiveram que entregar Jesus a Pilatos, o governador romano, que poderia fazer isso por eles.

27.3 voltou, arrependido. O arrependimento de Judas difere-se do arrependimento de Pedro. O arrependimento de Pedro gerou uma mudança de vida que resultou em ações da parte dele, que se tornou um dos mais proeminentes missionários no primeiro século da Igreja (1Co.9:5), enquanto o “arrependimento” de Judas o levou ao suicídio, que é um pecado sem volta (1Co.3:17). Em outras palavras, foi um arrependimento sem frutos, que muito mais se parece com a “tristeza segundo o mundo, que produz a morte” (2Co.7:9), como diz Paulo, do que com a “tristeza segundo Deus” (2Co.7:9), que produz “um arrependimento que leva à salvação e não remorso” (2Co.7:9).

27.16 Barrabás. Barrabás era um prisioneiro famoso pelo povo, pois havia participado de uma rebelião (Jo.18:40; Lc.23:19), buscando a liberdade do povo judeu contra os romanos. Assim, o povo preferiu escolher soltar aquele que lhes poderia libertar dos romanos, do que aquele que lhes poderia libertar do pecado. Eles escolheram o Reino físico, no lugar do Reino de Deus; um patriota nacional, ao invés do Salvador do mundo.

27.20 Os chefes dos sacerdotes e os anciãos possuíam grande poder de persuasão, pois aquele que se opusesse a eles poderia ser expulso da comunhão no templo e nas sinagogas (Jo.9:22).

27.24 lavou as mãos. Lavar as mãos era uma forma de se inocentar diante do povo, jogando a responsabilidade para eles. No entanto, Pilatos ainda continuava sendo responsável pela crucificação de Cristo, pois ele tinha autoridade para libertá-lo caso assim quisesse, e sabia que Jesus era inocente (v.18). Mesmo assim, ele decidiu agradar os judeus e fazer o que eles pediam, tentando ao mesmo tempo parecer que não estava contra Jesus. Assim como Pilatos, muitos nos dias de hoje sabem que Deus existe e que Jesus é o Cristo, mas preferem viver uma vida voltada para si mesmos do que para Deus, preferindo seguir o mundo e a voz da multidão. Cristo não quer omissos, que se ausentem do compromisso com Deus e de um posicionamento firme por Ele, mas fieis que sejam por Ele não importa onde estiverem, e contra quem estiverem.

27.25 seu sangue venha sobre nós, e sobre nossos filhos. O cumprimento disso foi o juízo estabelecido sobre os judeus na destruição de Jerusalém pelos romanos em 70 d.C. Não há nenhuma razão para crer que toda a descendência judaica permanece “amaldiçoada”.

27.32 Depois de ser violentamente açoitado e espancado, Jesus já não tinha nenhuma força para continuar levando uma pesada cruz em suas costas, sendo necessário que um homem dentre a multidão fizesse isso por ele. Contrariando a tradição popular, Simão não se solicitou a carregar a cruz, mas foi forçado a isso pelos soldados romanos, que escolheram aleatoriamente alguém na multidão.

27.33 que se diz o lugar da caveira. V. nota em Mc.15:22.

27.38 dois ladrões, um à direita, e outro à esquerda. O acréscimo “um” não consta nos manuscritos originais em grego, tratando-se de uma adição feita pela maioria dos tradutores para dar sentido à tradição que diz que Jesus esteve crucificado entre dois ladrões. O texto literalmente diz que haviam “dois ladrões, à direita e à esquerda”, o que significa um total de quatro ladrões crucificados com Cristo, dois de cada lado. É por isso que o soldado romano quebrou as pernas do primeiro crucificado, depois chegou ao segundo, e somente depois chegou a Jesus (v. nota em Jo.19:32-33), que era, por conseguinte, o terceiro da esquerda para a direita, ou da direita para a esquerda (dependendo da ordem que o soldado romano escolheu). Isso também explica o porquê que os “ladrões” (no plural) zombavam de Cristo (Mt.27:44), sendo que pelo menos um deles estava em favor de Cristo (Lc.23:39-42).

27.40 e em três dias o reedificas. Quando Jesus disse que o “templo” seria reconstruído em três dias referia-se não ao templo literal em Jerusalém, mas ao templo do seu próprio corpo, que ressuscitaria três dias depois (Jo.2:21).

27.44 os ladrões. V. nota em Mt.27:38.

27.45 hora sexta... até a hora nona. Do meio-dia às três horas da tarde. Este fato histórico incomum foi ressaltado por diversos autores não-cristãos da época, como Talo e Flêgão.

27.46 Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste? V. nota em Mc.15:34.

27.50 deu o espírito. V. nota em At.7:59.

27.51 o véu do templo se rasgou. O véu separava o Lugar Santo e o Santo dos Santos, significando que, agora, nada mais nos separa do contato direto com Deus, pois possuímos livre acesso ao Pai (v. nota em Ef.2:18). Josefo, importante historiador judeu do século I, escreveu dizendo que o véu tinha 18 metros de altura e 12 cm de grossura, e que mesmo se dois cavalos puxassem o véu (um de cada lado) não conseguiriam rasgá-lo. O que homem nenhum poderia fazer, Jesus fez, ao morrer em nosso lugar.

27.53 vieram à cidade santa. Jerusalém (Mt.5:35). apareceram a muitos. Subtende-se que foi um acontecimento real e literal, causando surpresa naqueles que os viram. Embora existam conjecturas sobre quais santos eram esses que ressuscitaram (alguns inclusive mencionam nomes de profetas do AT), a Bíblia silencia a este respeito. O máximo que podemos conjecturar é que eram pessoas que não haviam morrido há muito tempo, pois seus corpos ainda permaneciam relativamente conservados para aparecerem vivos em Jerusalém sem causar um alvoroço total – como se fossem zumbis.

27.56 mãe de Tiago. V. nota em Mc.15:40.

27.64 este engano será pior que o primeiro. O primeiro seria o de que Jesus é o Messias, e o segundo o de que ele ressuscitou.



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