Comentários de João 19
Cristianismo

Comentários de João 19


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Este capítulo faz parte da obra: “O Novo Testamento Comentado”, de autoria de Lucas Banzoli e de livre divulgação.
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1 Então Pilatos tomou a Jesus, e [o] açoitou.
2 E trançando os soldados uma coroa de espinhos, puseram-na sobre sua cabeça, e o vestiram de uma roupa vermelha.
3 E diziam: Tenhas alegria, Rei dos Judeus! E davam-lhe bofetadas.
4 Saiu pois Pilatos outra vez fora, e disse-lhes: Eis que eu o trago para fora [até] vós, para que saibais que nenhum crime acho nele.
5 Jesus foi pois trazido para fora, levando a coroa de espinhos, e a roupa vermelha-roxa. E [Pilatos] disse-lhes: Eis aqui o homem.
6 Quando então os chefes dos sacerdotes e os trabalhadores o viram, eles clamaram, dizendo: Crucifica [-o] ! Crucifica [-o] ! Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós, e crucificai [-o] ; porque eu nenhum crime acho nele.
7 Responderam-lhe os Judeus: Nós temos Lei, e segundo nossa Lei ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus.
8 Quando pois Pilatos ouviu esta palavra, ficou mais atemorizado.
9 E entrou outra vez no tribunal, e disse a Jesus: De onde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta.
10 Disse-lhe pois Pilatos: Não falas comigo? Não sabes que tenho poder para te crucificar, e tenho poder para te soltar?
11 Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se não te fosse dado de cima; portanto o que me entregou a ti tem maior pecado.
12 Desde então Pilatos procurava soltá-lo; mas os Judeus clamavam, dizendo: Se soltas a este, não és amigo de César; qualquer que se faz Rei, contradiz a César.
13 Então Pilatos, ouvindo este dito, levou fora a Jesus, e sentou-se no tribunal, no lugar chamado Litóstrotos, [ou pavimento] , e em hebraico Gabatá.
14 E era a preparação da páscoa, e quase à hora sexta, e disse aos Judeus: Eis aqui vosso Rei!
15 Mas eles bradaram: Tira, tira, crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Crucificarei a vosso Rei? Responderam os chefes dos sacerdotes: Não temos [outro] rei, a não ser César.
16 Então o entregou a eles, para que fosse crucificado. E tomaram a Jesus, e levaram [-no] .
17 E levando ele sua cruz, saiu para o [lugar] chamado a Caveira, que em hebraico se chama Gólgota.
18 Onde o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e a Jesus no meio.
19 E Pilatos também escreveu um título, e o pôs encima da cruz, e estava [nele] escrito: JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS.
20 Leram pois muitos dos Judeus este título; porque o lugar onde Jesus estava crucificado era perto da cidade; e estava escrito em hebraico, em grego, [e] em latim.
21 Diziam pois os chefes dos sacerdotes dos judeus a Pilatos: Não escrevas: Rei dos Judeus, mas que disse: Sou Rei dos Judeus.
22 Respondeu Pilatos: O que escrevi, escrevi.
23 Havendo pois os soldados crucificado a Jesus, tomaram suas roupas, e fizeram quatro partes, para cada soldado uma parte, e a túnica. E era a túnica sem costura, toda tecida desde cima [até baixo] .
24 Disseram pois uns aos outros: Não a partamos, mas lancemos sortes sobre ela, de quem será; para que se cumprisse a Escritura, que diz: Entre si partiram minhas roupas, e sobre minha veste lançaram sortes. Os soldados, pois, fizeram isto.
25 E estavam junto à cruz de Jesus, sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria [mulher] de Cleofas, e Maria Madalena.
26 E vendo Jesus a [sua] mãe, e ao discípulo a quem amava, que ali estava, disse a sua mãe: Mulher, eis aí teu filho.
27 Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua [casa] .
28 Depois disto, sabendo Jesus que já todas as coisas estavam feitas, para que a Escritura se cumprisse, ele disse: Tenho sede.
29 Estava pois ali um vaso cheio de vinagre, e encheram uma esponja de vinagre, e envolvendo-a com hissopo, levaram-na a sua boca.
30 Quando pois Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado; e abaixando a cabeça, deu o Espírito.
31 Os Judeus pois, para que os corpos não ficassem no sábado na cruz, pois era a preparação (porque era o grande dia do Sábado), suplicaram a Pilatos que as pernas deles fossem quebradas, e fossem tirados.
32 Vieram pois os soldados, e na verdade quebraram as pernas do primeiro, e do outro, que fora crucificado com ele.
33 Mas vindo a Jesus, [e] vendo-o já morto, não quebraram as suas pernas.
34 Mas um dos soldados lhe furou com uma lança o lado, e logo saiu sangue e água.
35 E o que viu isto, o testemunhou; e seu testemunho é verdadeiro, e sabe que é verdade o que diz, para que vós também creiais.
36 Porque estas coisas aconteceram para que se cumprisse a Escritura [que diz] : Osso dele não será quebrado.
37 E além disso, outra Escritura diz: Verão [aquele] a quem perfuraram.
38 E depois José de Arimateia, (que era discípulo de Jesus, porém oculto por medo dos Judeus) suplicou a Pilatos que pudesse tirar o corpo de Jesus; e Pilatos permitiu. Veio pois e tirou o corpo de Jesus.
39 E veio também Nicodemos, (aquele que antes de noite tinha vindo a Jesus) trazendo um composto de mirra e aloés, de quase cem arráteis.
40 Tomaram pois o corpo de Jesus, e o envolveram em lençóis com as especiarias, como é costume dos judeus sepultarem.
41 E havia um jardim naquele lugar onde fora crucificado; e no jardim [havia] um sepulcro novo, em que ainda nunca alguém havia sido posto.
42 Ali pois (por causa da preparação [da páscoa] dos Judeus, e porque aquele sepulcro estava perto) puseram a Jesus.



19.7 porque se fez Filho de Deus. Apenas se dizer “filho de Deus” não era “pecado” tal que levasse alguém à crucificação, visto que os judeus naturalmente criam ser eles “filhos de Deus” (Is.43:6). Eles entendiam que quando Jesus se dizia “filho de Deus” estava “se fazendo igual a Deus” (Jo.5:18), e era essa a razão pela qual isso lhes parecia tão ultrajante.

19.11 pecado maior. O texto deixa claro o conceito de graduação (níveis) de pecado, contrariando a concepção popular de que não existe “pecadinho” e “pecadão”. Todo pecado é uma ofensa a Deus, mas há pecados mais graves do que outros. Não podemos jamais perder o senso de proporções, como se mentir sobre o gosto da comida do almoço fosse tão grave quanto assassinar o presidente da república. Embora todo pecado possa levar à condenação caso não haja arrependimento sincero, as consequencias são maiores para os pecados mais graves.

11.12 se soltas a este, não és amigo de César. Os judeus apelaram para a autoridade do César, a quem Pilatos deveria prestar contas, forçando Pilatos a condenar Jesus para não desagradar o imperador.

19.13 ouvindo isso. Pilatos, mais uma vez, preferiu agradar os homens (neste caso, o imperador), do que agradar a Deus. Temendo ser punido pela autoridade acima dele, deu as costas à luz do mundo.

19.17 chamado Caveira. V. nota em Mc.15:22.

19.18 um de cada lado. O original grego não traz o termo “um” de cada lado. Literalmente, o texto diz apenas: “Ali o crucificaram, e com ele outros dois de cada lado, e Jesus no meio”. As evidências indicam que haviam quatro crucificados com Jesus, ao invés de apenas dois, que é como reza a tradição popular. Um excelente artigo sobre isso é disponível clicando aqui.

19.20 rei dos judeus. O título era irônico, mas mais ironicamente ainda é que ele serviu para retratar com perfeição a realidade dos fatos – eles estavam crucificando seu próprio Rei, que veio para salvá-los.

19.26 discípulo a quem ele amava. V. nota em Jo.13:23.

19.26 mulher, eis aí teu filho. Os irmãos de Jesus ainda eram incrédulos por esta ocasião (Jo.7:5), e por isso Jesus, priorizando o lado espiritual em detrimento do físico, prefere dar sua mãe aos cuidados do discípulo amado do que de seus irmãos descrentes, uma vez que João havia sido o único a subir ao pé da cruz e mostrar fidelidade a Cristo até o fim.

19.27 o discípulo a recebeu em sua casa. Embora a Igreja Católica através de artes mágicas e malabarismos pseudo-exegéticos tenha descoberto extraordinariamente que João aqui representa todos os cristãos de todas as eras e que todos nós temos que “receber Maria em nosso coração”, não há absolutamente nada no texto que diga isso. Se a interpretação católica estivesse correta, o texto deveria ter dito: “Depois disse ao discípulo que representava os crentes de todos os tempos: «Aí tens a tua mãe.» E desde aquela hora o discípulo a acolheu em sua casa, como devem fazê-lo todos os discípulos de Cristo já que naquela designação particular estavam incluídos implicitamente todos os membros da Igreja” (veja mais clicando aqui). Além disso, os Pais da Igreja não tomavam este texto no sentido romanista moderno do mesmo.

19.30 deu o espírito. O espírito é o fôlego de vida que Deus nos deu por ocasião da criação (Gn.2:7), cuja função é animar o corpo humano, tornando-o vivo. Uma vez que nós morremos e o corpo volta ao pó, o espírito retorna a Deus, que o deu (Ec.12:7). Este sopro de vida não tem absolutamente ligação alguma com uma “alma imortal” ou qualquer dualismo contrário às Escrituras, mas é visivelmente manifesto na forma da respiração, presente tanto nos seres humanos como também nos animais, razão pela qual é dito que homens e animais partilham do mesmo espírito-ruach (v. Ec.3:19-20).

19.31 e fossem tirados. A intenção dos soldados romanos ao quebrar as pernas dos crucificados não era para matá-los, e sim para tirá-los da cruz e impedir que fugissem, porque os judeus não permitiam crucificação no sábado. Os crucificados eram então retirados da cruz no dia de sábado e colocados de volta quando o sábado passasse.

19.33 mas vindo a Jesus. Este texto prova claramente que havia mais de dois criminosos crucificados com Jesus. O soldado romano havia cortado as pernas do primeiro, depois chegou no que estava do lado e cortou a perna dele também, e só depois é que chegou em Jesus. Se haviam dois de um lado, e a Bíblia diz que também havia mais do outro (Jo.19:18), então no mínimo haviam três crucificados com Jesus, e dado o texto de Jo.19:18 (v. nota) podemos concluir facilmente que foram quatro.

19.34 água e sangue. I.e, a prova física de que o corpo de Jesus não era um “holograma” (ilusão), como criam os docéticos. É por isso que João faz questão de ressaltar no verso seguinte que “quem viu isso o testemunhou; e seu testemunho é verdadeiro, e sabe que é verdade o que diz” (v.35). Era a evidência definitiva que os refutava. 



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