4.1 para ser tentado. Jesus não foi levado ao deserto para jejuar, mas para ser tentado. O jejum foi uma ferramenta usada por Cristo para matar a carne e vencer a tentação. Embora alguns comentaristas afirmem que ele só venceu a tentação e jejuou por quarenta dias por ser Deus, o fato é que Jesus venceu a tentação como homem, para servir de exemplo para nós, em nossas próprias tentações. É por isso que nós “não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado” (Hb.4:15). Moisés também jejuou por quarenta dias (Dt.9:9), assim como Elias (1Rs.19:8).
4.3 Comer pão ou fazer um milagre não é pecado, mas Cristo se recusou a fazer isso por duas razões. A primeira é porque ele não quebraria seu propósito de jejum, que ele levava a sério. Se ele se comprometeu a algo, ele cumpriria. A segunda é porque ele não iria se submeter nem por um segundo às ofertas de Satanás, que queria o contrário. O episódio nos revela um forte vínculo da obediência a Deus, que era a questão central de todas as tentações.
4.4 nem só de pão. Jesus coloca o alimento espiritual (Palavra de Deus) acima do alimento físico. Ele podia ficar quarenta dias sem comer, mas não podia ficar um dia sem a presença de Deus.
4.6 pois está escrito. O diabo tentou citar a única regra de fé de Cristo (Escritura) contra ele mesmo, mas de forma isolada e superficial. Jesus o refutou usando a mesma Escritura (v.7).
4.7 se tu és o Filho de Deus. Ele não precisava mostrar para ninguém – muito menos para o diabo – que ele era o Filho de Deus, através de milagres extraordinários. Ele já tinha plena segurança de quem ele era. Sempre quando alguém pedia uma prova milagrosa de que Jesus era o Filho de Deus, ele se recusava a fazer (Mt.12:39; 16:4; Lc.11:29). Os milagres operados por Cristo eram sempre uma generosidade dele em favor de uma pessoa necessitada, e não para mostrar algo a alguém, para único favorecimento pessoal.
4.7 não tentarás o Senhor teu Deus. Esta é a segunda prova implícita da divindade de Cristo. Satanás estava tentando Jesus, e Jesus diz que não se pode tentar Deus. Se Jesus não fosse Deus, este texto não faria o menor sentido. Ele deixa implícito que Jesus é aquele que não se pode tentar – o próprio Deus.
4.9 prostrado. O ato de se prostrar é colocado como sendo um precedente necessário para a adoração. É assim que, historicamente, os pagãos sempre adoraram as imagens. A finalidade da idolatria é sempre a glória de Satanás.
4.10 só a ele cultuarás. Para Jesus, o culto deve ser unicamente a Deus. Não existia ainda a ideia de um cultode latria a Deus e outro culto de dulia aos santos. A própria diferença entre latria e dulia já é em si mesma superficial, pois latria (do latim latreuo) significa servir, e dulia (do latim doulos) significa escravo. Assim, latria consiste em servir e dulia em escravizar-se a alguém (sinônimos). Na Igreja Romana, os fieis são incentivados a “servirem” (latria) a Deus e a serem “escravos” (dulia) dos santos e “super-escravos” (hiperdulia) de Maria. Se existe mesmo uma diferença, é em favor de Maria e dos santos (dulia).
4.17 arrependei-vos. O principal tema da pregação de Jesus era o mesmo de João Batista: o arrependimento. De nada adiantava pregar outras coisas enquanto as pessoas não fossem regeneradas e não decidissem mudar de vida. Era necessário que as pessoas saíssem da morte para a vida para que pudessem entender os demais pontos da fé. Depois do arrependimento, Jesus pregava as demais coisas. V. nota em Mt.3:2.
4.19 pecadores de homens. Assim como nenhum pescador tinha que esperar o peixe vir até eles, mas eram eles que lançavam as redes atrás dos peixes (v.18), nós (cristãos) que temos a incumbência de ir atrás dos perdidos (Mc.16:15), ao invés de esperarmos passivamente que eles venham às nossas igrejas.