A TENTAÇÃO NO PINÁCULO DO TEMPLO
Cristianismo

A TENTAÇÃO NO PINÁCULO DO TEMPLO


Um texto da Escritura que mostra um momento crucial é a tentação de Jesus no Pináculo do Templo.

Ela é vista também como a tentação do marketing da piedade pessoal—o que também é poder;ou ainda, como a tentação de “encurtar” a longa estrada do discipulado e da vivência na Palavra, por uma “rota mais curta”, especialmente visando à auto-afirmação ministerial no ambiente cristão.

No entanto, Satanás convidava Jesus muito mais do que para um Show Messiânico. Ele convidava Jesus para o “Pináculo do Templo”, para aquele lugar de onde o “Querubim da Guarda” foi derrubado, tornando-se Diabo e Satanás.
Figurativamente, Satanás tenta colocar Jesus acima do Pai, no Pináculo de Sua Habitação!

Essa é a tentação de todos aqueles que desejam se afirmar acima de sua vocação e que desejam se tornar independentes de Deus no “lugar sagrado”.
E pior: é a tentação dos que confundem Deus com o “lugar sagrado”, que rejeitam sua situação de criaturas, que pensam que possuem auto-suficiência para cumprir sua própria missão e que se enganam pensando-se detentores da chave da vida, ou do significado pessoal de suas próprias histórias — baseados em suas próprias virtudes —, sendo que, na maioria das vezes, tomam para si também a prerrogativa de juízes na Terra.

E isto tudo fundados no sucesso de suas performances espirituais ou materiais. Ora, Satanás também tem anjos a seu serviço. E se estavam disponíveis para o “sucesso do salto de Jesus”, não estariam também disponíveis para o sucesso da “igreja”?

Sucesso não é problema para quem disse “tudo isto te darei se prostrado me adorares”. E se fosse mentira, não seria, pelo menos para Jesus, nenhuma tentação!

A tentação é a possibilidade! Exatamente como lá no Jardim do Éden. Tanto era possível, que aconteceu! Tanto era mentira, que aconteceu sem realizar a promessa de Vida e Saber para o Bem!

As “verdades” do Diabo realizam o possível. O que não realizam é o impossível dos homens — e do Diabo também —, que só são possíveis para Deus, e, no caso, a maior impossibilidade da Terra e do Céu é a salvação de um homem por seus próprios méritos ou pelo apropriar-se das “possibilidades disponíveis”.

A proposta de Satanás realiza qualquer coisa, menos a entrega verdadeira ao Deus de Jesus! Neste sentido, pode-se dizer que nos ambientes da Religião, a tentação se apresenta de forma bem sedutora.

Quanto mais perto do Pináculo do Tempo se chega, mais entregue aos ventos dessa tentação nós ficamos! Afinal, o que o Diabo diz também é: “Prove, por você mesmo, e com seus próprios méritos, que você é Filho de Deus!”

O próximo passo é a “interpretação da Escritura”, conforme uma “hermenêutica satânica”. Aparece, então, a exegese do Salmo 91.
Pois, então, lhe disse o Diabo: “Se és o Filho de Deus, atira-te abaixo, por que está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito, que te guardem; e: Eles te sustentarão em suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra”.
E que ironia: no pináculo teológico e religioso a tentação é muito maior!

E nesse particular é bom que ninguém esqueça os fariseus e os escribas da Lei dos dias de Jesus. Eles eram homens do templo, sua piedade e religiosidade externas eram inquestionáveis; suas boas obras, irrepreensíveis; suas esmolas e jejuns, impossíveis de não serem reconhecidos; seu interesse pelas Escrituras, obsessivo.

Mas, e daí? Quanto mais uma pessoa se dedica à letra, menos se dedica à Palavra e mais distante fica de Deus. A letra mata! Satanás também nos incita à “possibilidade” de escravizar Deus às “ordenanças de nossas profecias”. Afinal, “está escrito!”

E neste aspecto, basta ouvir a programas cristãos no rádio ou vê-los na televisão, ou mesmo, basta ir à maioria das “igrejas de poder”, que se verá a “hermenêutica de satanás” sendo pregada.
É quando Deus tem que “obedecer” à Sua Palavra em sujeição à ignorância humana — o que é o de-menos em toda a história; ou quando Ele tem de se tornar “cúmplice” da pilantragem realizada em Seu nome, cumprindo, supostamente, promessas que Ele não fez; ou quando Ele é o “estivador celestial” que apenas realiza a “agenda” de curas e milagres que os agentes de publicidade e marketing da religião predefiniram.
E mais: isto acontece também quando Deus tem que cumprir a “Escritura”, que no caso foi objeto não só de exegese satânica, mas também teve seu aplicativo “cristão” muito bem “apropriado” aos interesses financeiros, psicológicos — no caso de “messias” que sofrem de surto religioso—; ou, “teológicos”, daqueles que dizem: “Deus não pensa assim!”

Assim, aprende-se que é no lugar sagrado e no manejo autônomo da Escritura, onde mais corremos o risco de cair em tentação!
Jesus poderia até ter pulado do Pináculo do Templo. Anjos poderiam até ter vindo socorrê-Lo — e não faltavam voluntários celestiais satânicos para cumprir a missão de aterrissagem de Jesus no pátio do Templo —, mas a Glória do Pai teria sido profanada!

Na base de tudo está o seguinte: A Escritura é absoluta. Sua interpretação, todavia, é relativa. Olhamos em volta e vemos o Livro de Deus em todas as prateleiras. Vemos o povo carregando-o sob o braço, e percebemos que eles são apenas “consumidores de Bíblias”.

Vemos certos líderes e os percebemos, muitas vezes, apenas como “mercadejadores” de Bíblias e dos “esquemas” e “programas” que se derivam do marketing que oferece e vende sucesso em “pacotes em nome de Jesus”.
Sim! E isto tudo, não porque nos faltam Bíblias e, muito menos, acesso à Palavra.
Se há medo, não há amor. Se não há amor, pode haver sujeição, mas nunca obediência.
.Assim, nascem os “sacrifícios” e as “trocas” com a divindade.
Jesus, todavia, responde ao Diabo com o que, estando “escrito”, estava também dito; e não com aquilo que estando “escrito”, não fora jamais dito.
“Não tentarás ao Senhor teu Deus” — respondeu Jesus. O que equivale a dizer: “Não use o que está escrito contra aquilo que Deus disse!”

Se eu busco o texto bíblico, uso-o, o exploro para meus próprios fins — sejam eles quais forem —, de fato estou é obedecendo à hermenêutica de Satanás, que, sobretudo, manipula o texto com o fim de fazê-lo ser a “nossa palavra”.
No fundo, é apenas um “outro evangelho”, mesmo que seja pregado por um anjo de Luz ou um ministro de justiça.

Aprendemos também como a Escritura pode se transformar num concurso de verdades e de sabedorias.Jesus, todavia, não entrou na disputa. Respondeu não com um discurso, mas com a Palavra. E se colocou na fragilidade que Ele escolheu para si, pois, sendo Deus, não julgou, como usurpação, ser igual a Deus. Antes pelo contrário: se humilhou e confiou apenas na Palavra e disse: “Ele dará ordens a teu respeito para que te guardem...”.
Portanto, é Deus quem sabe a hora. É Dele e somente Dele a agenda. E qualquer tentativa de tirar a Palavra de Deus das mãos de Deus e colocá-la nas mãos do homem, dando a este o poder de decidir, de ordenar, de demandar, de liberar, ou de trazer da mera “Escritura” o cumprimento de suas promessas, conforme a agenda humana, é aceitar a sugestão de Satanás e é ensinar as pessoas a usarem a “Escritura” contra a Palavra e contra elas mesmas.

Na tentação de Jesus — e quando falo de “tentação”, obviamente não me refiro apenas às três “clássicas”, conforme os evangelhos, mas a todas, conforme Hebreus—, o que vemos é Deus se entregando ao “risco supremo”.
Entregar Seu Filho ao confronto verdadeiro com a tentação em sua maior plenitude, foi, sem dúvida, um risco divino imensamente maior que qualquer outro.
A vitória de Jesus sobre a tentação é também vitória da Cruz. É a decisão da liberdade do Messias. É o fruto de Seu amor ao Pai e de Sua escolha pela Escritura como Palavra de Deus. Ele é livre e usa Sua liberdade na submissão de um amor obedientemente livre!

Cada um vive sua própria tentação e “usa” a do outro para justificá-la! Tentação é normal num mundo caído. Jesus é a prova de que saúde espiritual não nos isenta de tentações. Ele foi “tentado em todas as coisas à nossa semelhança, mas sem pecado”.



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