Culto de Fogo ou Desarranjo do homem?
Cristianismo

Culto de Fogo ou Desarranjo do homem?



Se quisermos ser honestos, em nenhum momento os capítulos de 1ª Coríntios 12, 13 e 14, considerados basilares para a doutrina da contemporaneidade dos dons, fornecem base para esse "desarranjo" que hoje toma conta do meio pentecostal e neopentecostal. Não há sequer um versículo isolado que se possa usar nessa sequência, mesmo de forma tortuosa, para justificar os atos esdrúxulos que se praticam em muitas igrejas, como se fossem reais manifestações do Espírito. Tudo não passa de algazarra disfarçada de piedade para manipular pessoas simples, que, na maioria dos casos, pouco conhecem a Bíblia. É triste ver, por exemplo, pregadores triunfalistas pedir para derramarem litros de óleo sobre a sua cabeça como sinônimo de "unção". Nada mais é do que carnalidade elevada à quinta potência.

Para começar, fica claro logo nos primeiros versos do capítulo 12 (sem entrar no mérito da discussão entre cessacionismo e continuísmo) que a soberania de Deus e não a vontade humana é o ponto de apoio para as manifestações dos dons na igreja. É o Espírito Santo quem os reparte, por sua livre e soberana vontade, "particularmente a cada um como quer", v. 11. Ou seja, não faz sentido ninguém arvorar-se como proprietário de algo que não lhe pertence e sair por ai cantando em prosa e verso que tem os "nove dons", se é o Espírito Santo quem os distribui como bem entende, acrescido da informação que aparece no v. 7: "para o que for útil". Em outras palavras, não é para produzir espetáculo, show, ou pôr o homem como o epicentro do culto.

Essa utilidade é claramente explícita, quando, ao tratar do dom de profecia, o apóstolo Paulo enfatiza que o seu uso visa a "edificação, consolação e exortação", 1 Coríntios 14.3. Isto é, eles não têm caráter revelacional. Por analogia, qualquer outra manifestação espiritual não pode fugir dessa finalidade. Ora, se a balbúrdia toma conta do ambiente, já não está cumprindo o propósito previsto e não se pode pôr na conta do Espírito Santo aquilo para o qual jamais contribuiu, visto que ele não está na origem de qualquer confusão. Portanto, são duas coisas que andam juntas e se complementam: quem tem a prerrogativa de repartir é o Espírito Santo sempre com um fim útil. O resto não passa de presunção humana.

Seguindo a mesma linha, o apóstolo estabelece uma ordem litúrgica para o culto (v. 26) e, ao tratar das línguas, dispõe que falem apenas dois, ou no máximo três, desde que haja intérprete (vv. 27,28), valendo o mesmo raciocínio para os profetas, sujeitos ao julgamento da igreja (v. 29). Por fim, arremata no verso 40: "Faça-se tudo decentemente e com ordem". Como o meu propósito, já expressado acima, não é discutir cessacionismo e continuísmo, acredito que não haja necessidade de qualquer exegese mais aprofundada para se compreenderem essa passagens. Elas têm a clareza do sol no meridiano. O culto prestado a Deus precisa cumprir minimamente esses pré-requisitos de forma racional, como o mesmo Paulo ensina aos Romanos 12.1. Se não for assim, é culto ao homem.

"Não ultrapasseis o que está escrito" (1Co 4.6)

Creio que alongar-me seria desnecessário. A maioria desses movimentos que ronda, hoje, os nossos arraiais está muito distante do modelo apresentado por Paulo à igreja de Corinto, que, certamente, experimentava algo bastante similiar aos retetés contemporâneos. Não tenho dúvida em afirmar que não passam pela régua da Escritura. Em grande parte se utilizam do processo de imitação, onde aplica-se a lei da probabilidade, usam-se as mesmas frases e palavras-chaves de modo a conduzir o participante a acreditar que se trata de obra do Espírito, quando, de fato, não passa de um jogo ilusionista dos "artistas da fé". Tenho lidado com diversas pessoas frustradas que quase perderam a fé por causa desses fraudadores do Evangelho.

O melhor antídoto contra esse mal continua sendo a Palavra de Deus.




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