Discursos com conteúdo religioso, candidatos fazendo profissão de fé, visitas a igrejas, resposta na ponta da língua sobre assuntos morais. Assim são as campanhas norte-americanas nas últimas três décadas. E assim ficou a corrida presidencial no Brasil em 2010. Se o brasileiro se espantava com esses ingredientes da democracia dos EUA, agora assiste em seu território o mesmo fenômeno. Veja a reportagem da TV UOL acima.
Meu comentário: Ao ver pastores, bispos (católicos e evangélicos), e padres se posicionarem nessas eleições, me fez pensar conforme o vídeo acima, que a eleição brasileira, ficou parecendo a norte-americana, com temas religiosos na pauta. Me lembrei de uma reportagem da Folha de São Paulo, escrito pelo Alcino Leite Neto em 10/04/2005, sobre a religião e as eleições americanas. A reportagem se chamava "As religiões se unem em Jesusland". Vou reproduzir abaixo trechos da matéria, vendo as semelhanças do que ocorreu este ano, aqui no Brasil, nas eleições presidenciais.
"As eleições que George W. Bush foi o vencedor, em 2000 e 2004, respectivamente, onde o voto evangélico, somado ao católico, foi decisivo para a sua vitória. A diferença é que nos EUA, os católicos representam 23% da população, e aqui no Brasil, cerca de 64%. Portanto, a dimensão político-eleitoral é importante. O voto católico foi significativo para a reeleição de George W. Bush, em 2004. Quando concorreu pela primeira vez, em 2000, ele teve 47% do voto católico, contra 50% do democrata Al Gore. Em, Bush levou 52% do voto católico, contra 47% do democrata John Kerry. Detalhe: Kerry é católico e ele poderia ter sido a oportunidade de os católicos elegerem o seu segundo presidente em toda a história americana.
Em mais de 200 anos de democracia, o único católico americano que chegou à Casa Branca foi John F. Kennedy (1961-1963). O liberalismo de Kerry em causas como a do aborto e dos direitos dos homossexuais desagradou os católicos americanos, que antes votavam majoritariamente com os democratas. Desde o acontecimento trágico de 11 de Setembro, parte dos católicos americanos (dentre eles os numerosos latino-americanos), também entraram numa onda fundamentalista, como os seguidores de outras igrejas no país.
Hoje, a pauta conservadora está fazendo convergir o catolicismo e as igrejas que outrora eram inimigas juradas do Vaticano."Caso Schiavo culmina aliança católicos-evangélicos" foi o título de uma reportagem do "New York Times", em 24 de março/2005. A reportagem ressaltava como católicos e evangélicos estão reunindo forças para defender a "cultura da vida", condenando a eutanásia, o aborto e a pesquisa com células-tronco."Agora, a aliança de evangélicos e católicos está entre as mais poderosas forças que moldam a política americana. Bush cortejou votos evangélicos e católicos em 2004 e se beneficiou da mobilização", diz o "New York Times".
Ainda hoje há campanhas americanas na internet contra os católicos e o Vaticano, que ganham força quando ocorrem escândalos como o dos padres pedófilos. O anticatolicismo americano, porém, abrandou muito nas últimas décadas nos Estados Unidos. Em "Jesusland" (como chamaram a parte da nação americana que votou em Bush em 2004), igrejas cristãs estão muito mais preocupadas em superar divergências e se coligarem, mesmo com o judaísmo. Unidas, elas pensam ganhar força para enfrentar os novos anticristos, que são o fundamentalismo islâmico, inimigo nem sempre explicitado, e, sobretudo, o "individualismo hipermoderno" (na definição da revista "Christianity Today"), com seu desprezo pelos fundamentos religiosos.