Cristianismo
Por um cristianismo sem igrejas
É claro que Jesus entrava e saia das sinagogas (Mateus 13:54, Marcos 1:21, Lucas 4:16), mas também ensinava nos montes (Mateus 5 e 7), orava nas clareiras dos bosques (Mateus 26:36) e escrevia no chão (João, 8:4, 11).
Quem frequenta um culto cristão hoje, sabe que ele se tornou tão viciado quando os templo judeus da época de Cristo, talvez pior do que eles. Hoje a comunidade cristã há muito deixou de ser um local de vivência real dos ensinamentos de Jesus para se tornar um
clube social onde as pessoas vão para ver, ser vistas e falar dos outros. Imagine se Cristo houvesse nascido nos dias de hoje, qual desses clubes você acha que ele frequentaria?
Talvez o clube católico com sua tradição e estética invejáveis; ou quem sabe um dos cultos protestantes onde a música e as luzes distraem os devotos; ou ainda um culto neo-pentecostal onde o show de milagres é garantido. Ou quem sabe, ele faria e viveria a Igreja da exata mesma forma que fez e viveu – entre prostitutas, ladrões e doentes, nunca protegido dentro das paredes do Templo de Salomão se isolando do resto do mundo.
A verdade é que assim como foi no começo da cristandade, ainda hoje podemos ser discípulos de Cristo longe das instituições religiosas. Isso porque instituição religiosa e “a Igreja” são coisas completamente diferentes. Isto é apenas mais uma corrupção do raciocínio, usada para se dominar os irmãos e irmãs mais frágeis e impressionáveis e as pessoas com dificuldades de arranjar e manter uma vida social por conta própria. Basta ver que em cada caso citado acima o importante não era o local onde Cristo pregava, mas o que ele pregava: Não como um pastor ou clérigo, não com oum sacerdote, mas como alguém cheio do Espírito Santo (Mateus 7:29, Marcos 1:22)
Como se isso não bastasse, cada um desses clubes faz questão de se eleger como a melhor escolha possível, muitas vezes descartando como malditos, enganados e hereges todos os que ficaram do lado de fora. Existem centenas de pastores, padres, pregadores, e líderes que se inflamam ao nos alertar sobre o perigo daqueles que vêm até nós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores, no entanto parecem não aperceber do próprio orgulho a vaidade vestidos como humildade e devoção. Quantas pessoas salvas em Cristo não se afastam da palavra desiludidas com a forma que esses “líderes” cristãos conduzem o que chamam de igreja, de templo do Senhor? Aqueles que deveriam servir como faróis na escuridão, apontando o caminho seguido por nosso Salvador, se tornam uma vela que apenas atrai mariposas solitárias, aqueles que não sabem distinguir a luz que ilumina da luz que consome e queima. Quantas pessoas deixam de frequentar os locais de culto, aos quais se acostumaram dar o nome de “templo” ou “igreja”? Quantos não tem sua fé abafada pelos dogmas criados apenas para iludir ou por aqueles que se utilizam de mentiras, ameaças e mesmo desprezo para consquistar um público assíduo para seus espetáculos?
De onde surge o direito divino de vincular a salvação de alguém a uma instituição? Quando Cristo afirmou que para estar salvo você deveria ser membro de algum grupo? E então surge um absurdo ainda maior: para se salvar é preciso comprar o pacote de doutrinas vendidas por eles, enfiadas goela a baixo por cada uma das instituições. Católicos desdenham protestantes. Pentecostais afirmam que a Santa Sé é a besta disfarçada. Testemunhas de Jeová lamentam a desilusão dos Adventistas. Todos criticam os Rastafaris, dizendo que nem ao menos são cristãos. E todos se esquecem da vida de nosso Salvador. Se não aceitamos uma determinada doutrina como a única salvação real oferecida por Deus então a instituição que a vende nos agride, nos intimida. Nos tornamos enganados, desiludidos. Se esquecem esses líderes os hábitos e a vida da única pessoa para quem Cristo prometeu: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.”. Nos tornamos os rebeldes incapazes de ouvir. Mas se isso ocorre se lembrem do sorriso do Salvador e não fiquem tristes, mas pelo contrário se animem: sermos taxados de rebeldes assim como Cristo também foi. Como podemos sentir tristeza de sermos perseguidos e malditos por estarmos ao lado de Jesus?
Qualquer mente, com um pouquinho de discernimento, percebe que uma instituição religiosa é apenas a idealização de um homem. Suas regras e doutrinas são o conjunto de interpretações de um homem. Suas paredes foram erguidas por homens para que ali habitasse nada além de outro homem. Não há qualquer referência bíblica de que um homem pode impor a sua interpretação bíblica a seus iguais, muito pelo contrario! Não nos advertiu Cristo sobre estas pessoas iníqüas? (Mateus 7:21-23). E o pior é que muitos deles nem percebem o que estão fazendo. Se sentem inspirados e saem por ai, não pescando homens, mas apenas formando turminhas para socializar: parecem mais pessoas em busca da confirmação de outros de que de fato está no caminho da própria salvação do que alguém que encontrou de fato Jesus em seu coração (Mateus 7:14).
O espírito cristão de hoje foi reduzido a frequentar cultos. A ouvir o que sabemos não passar de mentiras e nos calarmos de cabeça baixa. A defender a doutrina da instituição, suas regras e seu governo como se fosse uma criação divina e pior, como se possuísse poder divino. A submetermo-nos a rudimentos, a homens e a doutrinas. Nós damos dinheiro para uma instituição, para que ela crie mais templos ou organize novas obras, e não fazemos nada pelos outros. Encarregamos alguém de fazer isso em nosso lugar. Já repararam que a maioria das instituições arrecada, mas quando surge algo que necessita ser feito se apelam para voluntaries, para boas almas engajadas?
As instituições religiosas hoje são aberrações. Se fossem apenas um lugar onde se cometessem erros, mas houvessem também ações para se corrigir esses erros, se houvesse interesse real em se corrigir esses erros, então teríamos hoje locais onde a Palavra pudesse ser estudada, compartilhada e passada a diante. A semearíamos. No entanto, vemos coisas muito mais horrendas do que simples deslizes humanos. Nos vemos soterrados
em manipulação. Jogos de poder. Exploração moral e financeira. Ganância. Onde deveríamos encontrar a graça divina não vemos nada além da podridão humana, nada diferente do que os antros de vergonha que dizem combater – na verdade existe uma diferença: esses antros se mostram menos hipócritas, não tentam se passar por algo que nunca serão, nem tentam divinizar seus pecadores. Podemos chamar isso de “a igreja”? Recusemo-nos!
É neste momento que devemos tomar a decisão correta, a única decisão! Devemos simplesmente nos recusar a flertar com a mentira, com a ira, com a megalomania. Devemos deixar de compactuar com a injustiça. Devemos deixar de lado reuniões e cultos que não temos mais como chamar de “igreja” ou “culto”. Os cultos de hoje são tão vazios quanto o Natal do varejo. Existem aquelas poucas exceções? Claro que sim, mas servem no fim de tudo, apenas para alimentar a grande maioria daqueles que apenas se viciam no poder que recebem do rebanho que os assistem. Literalmente servem de exemplo para que sempre que apontemos o erro de uma instituição usarem aquela que funciona como justificativa: nem todas são assim!
Talvez devêssemos então partir do bom exemplo e tentar salvar a instituição sempre que ela se mostre realmente humilde? “Se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.” (Mateus 5:29-30) Seria apenas perda de tempo.
Devemos então buscar a Igreja onde o teto é o céu e onde não há paredes. Devemos alimentar os famintos e curar os enfermos ao invés de ficar sentados no banco cantando musiquinhas. Abandonemos templos e igrejas para pregar o evangelho a todas as criaturas; quem precisa repetir as interpretações de outros para pessoas que já as conhecem de cor? A Igreja não é um clube social, muito menos uma instituição civil. No Novo Testamento selado com o sangue de Cristo há um Povo Novo: a Igreja de Jesus Cristo, não são como alguns pregadores improvisados que de repente se sentem iluminados por algum espírito e passam a criar os seus grupinhos “cristãos”, para obrigar-lhes a pagar o dízimo e, assim, obter dinheiro, ou então a administrar a vida de seu rebanho com conselhos e sugestões. Tornamos a repetir: há apenas uma Igreja que existe desde o princípio e é aquela fundada por Jesus Cristo, que Ele próprio sustenta apesar das falhas e erros humanos. Ela é formada por homens pecadores. Se Deus quisesse ter uma Igreja celestial, teria enviado anjos para dirigi-la.
Por isso, é fundamental respeitar as autoridades instituídas por Deus (Romanos 13,1) e não criar novas igrejas.
Portanto, ninguém deve achar que recebeu autoridade de Deus para fundar novas igrejas tão somente porque algum dia resolveu “ler a Bíblia”. Pois Deus dispôs autoridades apostólicas que foram instituídas por Cristo
em SUA Igreja. A estas autoridades devemos obedecer porque velam por nossas almas (Hebreus 13,17). Esta autoridade delegada por Jesus Cristo apenas se encontra na única Igreja Primitiva. Sim! Nessa Igreja que muitos desprezam e prejulgam porque querem edificar, com forças próprias, algumas “igrejas melhores”.
No entanto, estas “igrejas dos homens” devem saber que estão se comportando mal, pois pregam a divisão dos cristãos, indo contra a vontade de Jesus Cristo expressa no Evangelho de São João 17,21. Muitos fundam novas igrejas com intuito de lucro e enganam as pessoas exigindo o dízimo. A verdadeira Igreja de Cristo é formada por todos os verdadeiros cristãos não por tijolos, e tem o próprio cordeiro de Deus como cabeça. A Igreja somos nós e quanto às igrejas e templos que surgem a todo dia, essas nada importam, pois só Cristo saberá separar o joio do trigo quando chegar sua vez.
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