Cristianismo
Pentecostalismo e Política em debate - Parte 02
Sobre a presença dos protestantes na política brasileira, segundo Freston (1999, p. 335), os protestantes históricos se elegem para o congresso desde os anos 1930, mas sua presença era pequena e discreta. Alguns tinham um eleitorado basicamente protestante, mas nenhum deles tinha o endosso oficial de uma denominação. (...) Os pentecostais estavam quase totalmente ausentes do congresso.
O pioneiro entre os pentecostais a lançar candidatos na política foi Manoel de Melo da Igreja O Brasil para Cristo, nos anos 60.
Todavia, o momento que, segundo os principais pesquisadores do fenômeno, marca a entrada efetiva dos pentecostais brasileiros na esfera pública política nacional é o período pré-eleições de 1986, onde se elegeriam os parlamentares que participariam da confecção do Constituição brasileira de 1988.
Os discursos das lideranças pentecostais giravam em torno da “mística da Assembléia Nacional Constituinte (ANC) como um momento em que seria possível reescrever o Brasil, ou pelo menos impedir que outros o reescrevessem.” (FRESTON, 1994a, p. 64). Já conhecedores dos meandros da política nacional através dos primeiros contatos que tiveram com os governos do período militar, “a partir de 1986, como muitos outros movimentos sociais, os evangélicos tornaram-se um grupo de pressão política.” (PEDDE, 2005, p. 124).
Se até esse período as igrejas pentecostais manifestavam pouco interesse pelas questões políticas, inclusive condenando relações entre política e religião, a Nova República viu surgir uma configuração inteiramente nova de atuação política. A necessidade de se fazer representar na Assembléia Constituinte fez brotar alguns discursos inéditos nos meios pentecostais. Inclusive, na antes tradicionalmente apolítica Assembléia de Deus.
“A AD não demorou a mostrar clara consciência de ser a maior igreja evangélica. Na sua Convenção Geral em janeiro de 1985, em Anápolis-GO, vários líderes falaram da importância da Constituinte.” (FRESTON, 1994a, p. 42). Destaca-se neste período o livro de Josué Sylvestre46 que foi “influente na popularização da nova política da hierarquia assembleiana em 1986.” (FRESTON, 1994a, p. 66).
Sobre a convenção das Assembléias de Deus de 1985 em Anápolis para discutir as estratégias de engajamento político da igreja, Sylvestre diz: “Para mim, filho de pastor pioneiro da Assembléia de Deus e membro da igreja desde infância, este é um acontecimento extraordinário e só posso entendê-lo com providência divina.” (SYLVESTRE, 1986, p. 28).
Sylvestre advertia os evangélicos quanto à importância de ocupar tais espaços e repreendia a apatia política dos evangélicos: Será agora, em 1986, ou nunca mais! Ou sacudimos esse opróbrio dos nossos ombros, livrando-nos dessa acomodação, desse desinteresse, dessa falta de coordenação, dessa falta de inteligência, dessa falta de amor, e elegemos parlamentares e administradores evangélicos em todas as eleições que surgirem de agora em diante, ou veremos o nosso país, cada vez mais, sendo arrastado para o lodaçal da corrupção e da má administração.
(SYLVESTRE, Josué. Irmão vota em irmão: os evangélicos, a constituinte e a Bíblia. Brasília: Pergaminho, 1986).
O resultado de tal mobilização refletiu-se nas urnas. Com a tentativa de “perder” o mínimo de votos possível para candidatos não-evangélicos e até candidatos de outras denominações, as igrejas pentecostais tomaram a postura inédita de indicar “candidatos oficiais”, “ungidos” pelas lideranças eclesiásticas.
No sentido de potencializar sua capacidade de eleger o maior número possível de deputados federais, essa prática também foi adotada pela Assembléia de Deus “que decidiu fazer sua entrada oficial e estratégica naquele espaço do poder legislativo. Conseguiu eleger 13 deputados.
Na legislatura anterior, essa igreja elegera um representante, apenas.” (BAPTISTA, 2009, p. 21). Nas eleições de 2002, esse número de deputados federais ligados à Assembléia de Deus já havia pulado para 22. Nem todas as igrejas pentecostais entraram na disputa eleitoral. Igrejas grandes como a pioneira Congregação Cristã do Brasil e a Deus é Amor ainda mantém seu apoliticismo.
Nas outras igrejas houve algumas reações internas contra a participação na política, mas a tendência politizante acabou prevalecendo na Assembléia de Deus, na Igreja do Evangelho Quadrangular e na Igreja Universal do Reino de Deus.
Segundo Paulo Freston, a partir da campanha para o Congresso Constituinte (1986), os pentecostais e neopentecostais vêm elegendo candidatos oficiais: de 1987 a 1995, a Assembléia de Deus e a Igreja Universal do Reino de Deus, elegeram cerca de 40 parlamentares ao Congresso Nacional.
A maioria deles tem vínculo com a mídia, alguns são concessionários, outros apresentadores de programas evangélicos. Os candidatos pentecostais, são assim tipificados por Freston: “...são homens proeminentes na igreja, como evangelistas, cantores, ou apresentadores de programas; filhos ou genros de pastores-presidentes; e empresários pentecostais que fazem acordos com seus líderes eclesiásticos”. (BAPTISTA, 2009).
Os beneficiários dessa presença na política, são as cúpulas eclesiásticas. Fortalece-se o poder familiar, o status público, e as posições intra-eclesiásticas.
Fonte: Tese de Mestrado em Ciência da Religião, apresentado por Daniel Rocha na Puc Minas, sob o título: "Venha a nós o vosso reino: rupturas e permanências na relação entre escatologia e política no pentecostalismo brasileiro". Ela pode ser acessada na íntegra pelo endereço: http://www.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20100503191040.pdf
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