Os pastores estão abandonando seus postos
Cristianismo

Os pastores estão abandonando seus postos


Os pastores estão abandonando seus postos, desviando-se para a direita e para a esquerda, com freqüência alarmante. Isso não quer dizer que estejam deixando a Igreja e sendo contratados por alguma empresa. As congregações ainda pagam seus salários, o nome deles ainda consta no boletim dominical e continuam a subir ao púlpito domingo após domingo. O que estão abandonando é o posto, o chamado.Prostituíram-se após outros deuses. Aquilo que fazem e alegam ser ministério pastoral não tem a menor relação com as atitudes dos pastores que fizeram a história nos últimos vinte séculos. Alguns, e me incluo entre estes, estão irados com essa situação, porque se sentem abandonados. Meus colegas me ensinaram o que é o ministério, mediram minha capacidade,
ordenaram-me e colocaram-me como pastor de uma congregação. Pouco tempo depois, afastaram-se de mim, dizendo ter interesses mais urgentes. Aqueles que eu pensei que seriam os meus companheiros na carreira desapareceram quando o trabalho começou. Ser pastor é uma tarefa difícil.
Por isso, queremos aliados, para nos fazer companhia e nos aconselhar. Existem pessoas de quem se espera, com toda razão, que compartilhem a aventura e os compromissos do trabalho pastoral. Quando entro em uma sala, cheia dessas pessoas e, dez minutos depois, percebo que elas não são o que eu esperava, sofro um desapontamento doloroso. Elas falam de idéias e estatísticas, citam nomes, discutem influência e status. A matéria-prima com que trabalham não inclui os assuntos de Deus, nem a alma e nem a Bíblia.
Os pastores se transformaram em um grupo de gerentes de lojas, sendo que os estabelecimentos comerciais que dirigem são as igrejas. As preocupações são as mesmas dos gerentes: como manter os clientes felizes, como atraí-los para que não vão às lojas concorrentes que ficam na mesma rua, como embalar os produtos de forma que os consumidores gastem mais dinheiro com eles.
Alguns pastores são ótimos gerentes, atraindo muitos consumidores, levantando grandes somas em dinheiro e desenvolvendo uma excelente reputação. Ainda assim, o que fazem é gerenciar uma loja. Religiosa mas, de toda forma, uma loja. Esses empreendedores têm sua mente ocupada por estratégias semelhantes às de franquias de fast-food e, quando dormem, sonham com o sucesso que atrai a atenção da mídia. Diz Martin Thornton: “Uma congregação enorme é algo bom e agradável, mas a maior parte das comunidades precisa mesmo é de alguns santos. A tragédia é que pode ser que eles estejam lá, como embriões, esperando ser descobertos, precisando de treinamento eficiente, aguardando ser libertados do culto à mediocridade.”
A verdade bíblica é que não existem igrejas cheias de sucesso. Pelo contrário, o que há são comunidades de pecadores, reunidos semana após semana perante Deus em cidades e vilarejos por todo o mundo. O Espírito Santo os reúne e trabalha neles. Nessas comunidades de pecadores, um é chamado pastor e se torna responsável por manter todos atentos a Deus. E é essa responsabilidade que tem sido completamente abandonada.
“De mim se apoderou a indignação…” (Salmo 119:53). Não sei quantos compartilham de minha indignação. Posso citar alguns nomes, mas não creio que haja muitos como nós. Será que ainda existem sete mil que não dobraram os joelhos perante Baal? Haverá um número suficiente para sermos identificados como uma minoria? Acredito que sim. De vez em quando, conseguimos identificar-nos um com o outro, e algumas minorias já conseguiram grandes realizações. E deve haver alguns gerentes de loja que estão descobrindo que o ensopado pelo qual trocaram seu direito de primogenitura é sem sabor e estão, com tristeza, trabalhando pela restauração de seu chamado. Será essa tristeza uma brasa, com força suficiente para se tornar uma labareda de repúdio à deserção que havia acontecido? Voltará a Palavra de Deus a ser como fogo na boca deles? Poderá a minha indignação ser como um fole que sopra esse carvão?
Existem três atividades pastorais tão básicas, tão críticas, que determinam a forma de todas as outras: oração, leitura da Bíblia e orientação espiritual. Além de básicas, essas tarefas são silenciosas, não chamam a atenção, de modo que, muitas vezes, são negligenciadas. No trabalho pastoral, tão cheio de urgências, ninguém nos incita a nos apegarmos a elas. É possível satisfazer àqueles que julgam nossa competência ou pagam nosso salário sem sermos diligentes ou habilidosos nelas. Já que quase ninguém percebe se cumprimos esses três atos no ministério, e só ocasionalmente nos perguntam se os executamos, é comum nos descuidarmos.
As três atividades são compostas por atos que envolvem atenção: ao orar, posto-me perante Deus, atento a Ele; ao ler as Escrituras, presto atenção ao que Deus falou e como agiu durante dois milênios, primeiro em Israel e depois em Cristo;
ao orientar alguém espiritualmente, fico atento ao que está fazendo na vida daquela pessoa que se encontra diante de mim.
Em todos os atos, é em Deus que nossa atenção é centralizada. Ou, pelo menos, é isso que pretendemos que aconteça. Os contextos, porém, são variados: na oração, o contexto sou eu; na Bíblia, é a comunidade da fé dentro da história, e, na orientação espiritual, é a pessoa que se encontra diante de mim. Em todos os contextos, nossa atenção principal está voltada para Deus, mas nunca por causa dEle mesmo. Pelo contrário, estamos atentos a Deus por causa de Seus relacionamentos: comigo, com Seu povo, com uma pessoa específica.

Fonte: "Um pastor segundo o coração de Deus", de Eugene Peterson, via a A Gruta do Lou Mello.



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