INTRODUÇÃO
O presente artigo não ter por objetivo examinar e explicar cada ponto sobre lutas e tribulações, embora fale sobre isso. Seria necessário escrever um livro todo se quisesse discorrer sobre as razões pelas quais Deus permite as adversidades e sobre como devemos encará-las, utilizando diversos exemplos bíblicos.
Da mesma forma, ainda que este artigo fale sobre fé, ele não aborda tudo sobre a fé. Seria preciso, novamente, escrever um livro inteiro se quisesse abordar todas as formas e tipos de fé, sobre o que significa fé, como ela funciona, os seus efeitos e seus resultados, com profundo embasamento Escriturístico.
Este artigo, em especial, resume-se a mostrar como nós devemos usar a fé nas tempestades da vida, sem murmurar contra Deus, mas descansando nEle, mesmo naquilo que parece aos nossos olhos não ter nenhuma solução. O meu sincero desejo é que este artigo sirva para a edificação espiritual de todos vós que estão em Cristo.
A FÉ NO INVISÍVEL
“Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são comparáveis com a glória que em nós há de ser revelada” (Romanos 8:18)
O apóstolo Paulo escreveu dizendo que “vivemos por fé, e não por vista” (2Co.5:7). O escritor de Hebreus expressou a mesma ideia ao dizer que a fé é a convicção de coisas que “não se veem” (Hb.11:1) e a certeza das coisas que esperamos. Paulo foi além e escreveu:
“Ora, a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê como também esperará? Mas, se esperamos aquilo que não vemos, com paciência o esperamos” (Romanos 8:24,25)
Por toda a Bíblia vemos declarações enfáticas de que as promessas e as respostas de Deus não são baseadas no mundo visível que temos a nossa volta. Ao contrário, a promessa garantida que temos é que a fé não é “por vista”, e que atua por meio de “coisas que não existem”. Um problema crônico do ser humano é que, em função de sua própria essência material, seja puramente materialista.
Esperamos alguma coisa com fé somente no caso desta fé estar sendo respaldada por evidências físicas e tangíveis. Não estou dizendo que Deus não pode jamais nos conceder tais evidências, mas este não é o método pelo qual Ele costuma agir. A nossa fé e esperança só é despertada quando não temos a nossa vista as evidências palpáveis daquilo que esperamos.
Suponhamos que você esteja com alguma doença, e para se tratar se atola de remédios e mais remédios que combatem a enfermidade. Será que esta pessoa estará praticando um ato real de fé ou estará simplesmente fazendo aquilo que qualquer pessoa do mundo faria? Evidentemente, o ímpio tomaria as mesmas decisões suas e teria a mesma esperança, baseando-se nas evidências físicas de que o remédio ajuda a curar o enfermo.
Definitivamente não sou contra que o cristão faça uso de remédios em última instância, mas a oração deve ser sempre o primeiro caminho para receber a cura. Diferentemente dos remédios, a oração não lhe traz alguma evidência tangível de que você pode ser curado. Ao orar, você não engole cápsulas, não lê bulas, não bebe nada, não ingere nada fisicamente que pode lhe assegurar a cura. Então, como é que você crê que será curado por meio da oração? Através da fé! A fé legítima!
Vamos dar outro exemplo prático, desta vez na área sentimental. Imagine que você gosta de alguém genuinamente cristão, que coloca essa pessoa diante de Deus nas suas orações, sabe que este alguém tem caráter e personalidade verdadeiramente cristã e que vive no caminho da santidade e consagração a Deus.
Se este alguém dá todas as evidências lógicas de que gosta mesmo de você (através do olhar, da fala, das atitudes diferentes, etc), que tipo de “fé” você deveria ter? Ora, até o iníquo crê que alguém gosta dele quando tem todas as evidências disso! Mas quando esperamos com fé – mesmo sem estar respaldado por evidência alguma – aquilo que não vemos, com paciência esperamos e vemos a vontade de Deus agir naquela situação.
Ou tome como exemplo o Paraíso, o nosso lar eterno. Alguma vez você já foi arrebatado ao terceiro céu e teve a comprovação de que Deus e o Céu realmente existem? Alguma vez você viu Deus descer dos céus rasgando as nuvens e dizendo: “Eu sou Deus, me adorem”!? Alguma vez um anjo já desceu dos céus e apareceu a você dizendo que você será comprovadamente salvo? Provavelmente, não!
Então, como é que sabemos com certeza absoluta de que Ele voltará e nos levará com Ele para o Seu Reino Celestial? Através da fé, que é a convicção daquilo que não vemos! É claro que temos fortes evidências que atestam a veracidade da Bíblia e a existência de Deus, mas tais argumentos jamais levariam um descrente a ter certeza absoluta da veracidade da mensagem do evangelho. O máximo que faria seria levá-lo a ter “50%”, “70%” ou “95%” de certeza; mas a certeza absoluta e indiscutível, é só Deus quem dá, através da fé!
Por todos os lados vemos situações ao nosso redor em que estes e muitos outros exemplos podem ser aplicados sem erro. Não cabe aqui detalhar cada um deles, mas sim mostrar que eles serão sim solucionados, mas não através da nossa lógica argumentacional humana, mas através do poder da fé que destrói muralhas. Porque “Deus fez louca a sabedoria deste mundo” (1Co.1:20).
Paulo ainda diz que não conhecemos verdadeiramente a Deus somente por meio da nossa inteligência humana (1Co.1:21). Ao contrário, a mensagem da cruz é loucura para aqueles que querem argumentar por este meio (1Co.1:23). Em toda e qualquer situação que enfrentarmos, devemos fazer uso da fé, ou então sofreremos o fracasso em alcançar o objetivo e muitas vezes acarretaremos em muitos sofrimentos para nós mesmos.
A fé pode ser definida como a convicção no nosso espírito acerca daquilo que é a vontade de Deus para nós, independente de quanta evidência física existe ao nosso redor ou na determinada circunstância que enfrentamos. Por exemplo, se as evidências exteriores o levam a 80% de certeza acerca de determinado ponto da fé ou de sua própria vida, a fé lhe faz chegar a uma convicção absoluta – 100% de certeza.
Se as evidências exteriores lhe deixam duvidoso, com 50% de certeza, a fé lhe traz 100% de certeza. E ainda que você não veja absolutamente nenhuma evidência ao seu redor, ou mesmo veja evidências contrárias, a fé lhe traz esta total confiança mais uma vez!
Independentemente do tanto provável que seja pela lógica, nunca alcançaremos por meio dela a segurança absoluta, pois sempre teremos em mente aquela dúvida inquietante, ainda por menor que ela seja, e esta dúvida não sairá da nossa cabeça a não ser por meio da fé! Você ficará sofrendo por causa desta dúvida ou temor; quando, na realidade, poderia já descansar inteiramente em Deus, através da fé. É isso o que significa as repetidas menções bíblicas sobre o “descansar em Deus” (Sl.37:7; Sl.62:5).
Não significa ficar literalmente descansando, parado, sem fazer nada e sem buscar a Deus. Não significa uma passividade absoluta em que não tomamos atitude nenhuma em momento nenhum. Significa, antes, que essa fé que teremos será tão grande, mas tão grande, que já não ficaremos mais preocupados nem perturbados com coisa alguma.
Não ficaremos mais sofrendo em função de incredulidade onde poderíamos colocar nossa fé em ação; não ficaremos mais inquietados com os problemas e adversidades. Simplesmente aplicaremos a fé, que significa a convicção absoluta de que a promessa vai acontecer e o tempo de Deus vai chegar. Quando você é tomado por esta convicção absoluta, não mais tem razões para quebrar a cabeça com aquele problema que antes o deixava abalado.
Na verdade, ficaremos tão confiantes em Deus que estaremos “descansando” nele, sem nos preocuparmos com aquelas coisas que antes nos tiravam do sério. Confiaremos tanto nEle que não mais teremos em mente aquela adversidade, tribulação, provação ou tentação. Deixaremos essas coisas com Deus e ficaremos como que “descansando” – sem se perturbar com aquilo.
Sabemos que em todas as coisas podemos confiar em Deus e que em todas as coisas somos mais que vencedores. Mas as pessoas precisam urgentemente aprender o que realmente significa sermos “mais que vencedores”. Paulo não estava advogando uma teologia super-triunfalista, e nem tampouco é possível ser mais que vencedor no sentido de “vencer duplamente”, pois ou você vence, ou não vence!
Quando ele fala sobre ser mais que vencedor, está dizendo que não apenas venceremos a luta que estamos passando, mas que ao final dela veremos que Deus fez mais do que isso – que Ele terá tratado com o nosso caráter, nos moldado, lapidado e aperfeiçoado, para sermos mais parecidos com Jesus, firmados sobre um firme e sólido alicerce que estabelece a nossa fé. Isso é ser “mais que vencedor”: é vencer a luta e sair dela transformado!
Paulo escreve sobre o nosso aperfeiçoamento espiritual nas tribulações, da seguinte maneira:
"Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu" (Romanos 5:3-5)
Paulo se gloriava nas tribulações, pois sabia que Deus usa elas para gerar em nós maturidade espiritual, que não teríamos se tudo estivesse as mil maravilhas. Da mesma forma, o apóstolo afirma algo ainda mais profundo aos filipenses:
"Pois a vocês foi dado o privilégio de não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele" (Filipenses 1:29)
Note que tanto o "crer" quanto o "sofrer" devem ser encarados como um privilégio, se este sofrimento em questão for do propósito de Deus a fim de operar em nós transformação e crescimento espiritual. Deus, portanto, não apenas irá nos dar a vitória sobre esta tribulação quando ela chegar ao fim, mas também no meio dela estará realizando o Seu designo em nossas vidas, gerando amadurecimento espiritual.
Muitas pessoas analisam a vitória apenas no prisma de onde ela termina, deixando de ver todo o processo de crescimento que é gerado no meio da provação, onde a nossa fé mais é testada e colocada em prática, e quando mais oramos e perseveramos na oração.
Este importante processo de aperfeiçoamento no meio das lutas também deve ser encarado como "vitória", pois fez de você um cristão mais genuíno, refinado pelo fogo e provado ser mesmo servo de Deus. Qualquer um consegue servir a Deus quando tudo está em paz ao seu redor. Os verdadeiros cristãos só são revelados através da prova do fogo: as provações. Nelas que os genuínos cristãos são revelados para a glória de Deus:
"Assim acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm é muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado" (1ª Pedro 1:7)
Se apenas “vencermos” a luta no fim, isso não significará nada além daquilo que em si mesmo significa. Por exemplo, se você está com sérias dificuldades financeiras e Deus supre as suas necessidades, isso não traz renovação ao seu caráter e nem tampouco o faz mais cristão. Você simplesmente terá vencido aquela adversidade, mas na prática a sua vida espiritual estará empacada no mesmo estágio que antes.
Mas se Deus usa essa aparente tribulação para moldar o seu caráter de alguma forma, você verá que no fim não apenas teve vitória sobre aquilo, como também teve mais que simplesmente isso: teve o aperfeiçoamento do “homem interior”, cresceu de “glória em glória” (2Co.3:18), se solidificando na fé. Portanto, você saiu da guerra mais do que simplesmente com a vitória dela!
MURMURAÇÃO OU ADORAÇÃO?
Um outro ponto importante a ser ressaltado é quando o apóstolo Paulo traça um paralelo entre o que acontece conosco hoje e o que ocorreu com os israelitas no deserto, durante quarenta anos:
“Porque não quero, irmãos, que vocês ignorem o fato de que todos os nossos antepassados estiveram sob a nuvem e todos passaram pelo mar. Em Moisés, todos eles foram batizados na nuvem e no mar. Todos comeram do mesmo alimento espiritual e beberam da mesma bebida espiritual; pois bebiam da rocha espiritual que os acompanhava, e essa rocha era Cristo. Contudo, Deus não se agradou da maioria deles; por isso os seus corpos ficaram espalhados no deserto. Essas coisas ocorreram como exemplos para nós, para que não cobicemos coisas más, como eles fizeram. Não sejam idólatras, como alguns deles foram, conforme está escrito: "O povo se assentou para comer e beber, e levantou-se para se entregar à farra". Não pratiquemos imoralidade, como alguns deles fizeram — e num só dia morreram vinte e três mil. Não devemos pôr o Senhor à prova, como alguns deles fizeram — e foram mortos por serpentes. E não se queixem, como alguns deles se queixaram — e foram mortos pelo anjo destruidor.Essas coisas aconteceram a eles como exemplos e foram escritas como advertência para nós, sobre quem tem chegado o fim dos tempos. Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!” (1ª Coríntios 10:1-12)
Paulo afirma que tudo aquilo que ocorreu com o povo hebreu naquela época serve como exemplo a não ser seguido por nós atualmente. Mas por que ele diria isso? Simplesmente porque temos a tendência de seguirmos os péssimos exemplos deles em nosso dia-a-dia. Cabe, agora, discorrermos acerca do que fez com que os israelitas não herdassem a promessa da terra prometida.
Vemos que aquele povo cometeu inúmeros pecados, de inúmeras espécies: adoraram um bezerro de ouro, se entregaram a “farra” (imoralidade sexual), foram desobedientes, e cometeram todos os tipos de pecados abomináveis aos olhos do Senhor. Mas, de tudo isso, o que realmente fez com que eles não entrassem na promessa foi uma coisa chamada: murmuração. Por dez vezes os israelitas tentaram a Deus no deserto, murmurando ao invés de esperarem com fé em Deus:
“No entanto, juro pela glória do Senhor que enche toda a terra, que nenhum dos que viram a minha glória e os sinais miraculosos que realizei no Egito e no deserto, e me puseram à prova e me desobedeceram dez vezes — nenhum deles chegará a ver a terra que prometi com juramento aos seus antepassados. Ninguém que me tratou com desprezo a verá” (Números 14:21-23)
O que mais me impressiona em tudo isso, não é somente o fato daquele povo murmurar tanto, mas sim que eles contemplaram com os próprios olhos os maiores milagres que já existiram na história da humanidade.
Imagine ver o Mar Vermelho se abrir diante de você e se fechar exatamente quando os egípcios tentavam fazer o mesmo; imagine contemplar as dez pragas vindas sobre o povo do Egito sem atingir sequer um só do seu povo; imagine ver uma coluna de nuvem o guiando de dia e uma coluna de fogo o guiando todas as noites; imagine ver maná caindo literalmente do céu todos os dias durante quarenta anos para trazer alimentação sustentável a toda uma nação inteira com 3 milhões de pessoas; imagine alguém bater na rocha e sair água para toda a nação; imagine contemplar as águas amargas transformando-se imediatamente em águas saudáveis para o povo beber. Imagine ver todas essas coisas diante dos seus olhos e, mesmo assim, só fazer três coisas diante disso: murmurar, murmurar e murmurar mais!
Vamos fazer uma analogia mais prática para os dias de hoje. Imagine que você é uma mãe e que trata o seu filho da melhor maneira possível. Ele não faz nada por você, mas você dá a sua vida por ele. Você dá a melhor educação, o melhor colégio, as melhores roupas, a melhor alimentação, dá o melhor do que existe na terra, concede atenção especial todos os dias, ora e intercede sem cessar por ele, entra em todas as suas causas para ajudá-lo, e praticamente que não vive a sua própria vida para viver a vida dele.
O que, então, que você esperaria deste seu filho? Reciprocidade! Você espera receber o mesmo amor, e que ele esteja com atitude de ação de graças por tudo o que você faz por ele. Ainda que venha pela frente alguma situação turbulenta, você espera que ele confie que você está tendo o controle de todas as coisas, e que não irá desampará-lo nunca.
Mas, ao invés de tudo isso, este seu filho apenas reclama e murmura contra você. Ele a agride fisicamente, moralmente e de todas as formas tenta denegrir a sua imagem. Não é agradecido por nada, nem tampouco reconhece aquilo que você faz por ele. Apenas murmura. Como você agiria com um filho assim? Certamente que não teria tanta paciência quanto a paciência que Deus teve para com o povo israelita.
Eles tiveram tribulações e adversidades pela frente? Certamente que sim. Mas, diante de todos os milagres e maravilhas que contemplavam a sua frente, bastava que colocassem a fé em Deus – sem murmurar com coisa alguma – confiando na soberania e fidelidade dEle para com você. Se Deus havia chegado ao ponto de abrir até o Mar Vermelho para eles, certamente que dar o que comer não seria de dificuldade nenhuma!
Conosco ocorre muitas vezes exatamente a mesma coisa. Se você prestar bem atenção ao seu redor, verá que Deus está operando grandes feitos em seu favor. Ele não apenas lhe concedeu a vida, como também a sustém. Dá-lhe o que comer, dá o que vestir, dá uma vida digna. Ele não apenas lhe sustém em suas necessidades mais básicas, mas, muitas vezes, faz muito mais que isso.
Ele concede dons espirituais, concede o seu favor, intervém de todas as maneiras para que todas as coisas colaborem juntamente para o bem daqueles que O amam, atende e responde as orações que estão de acordo com a Sua vontade e, o mais importante de tudo: ele deu o seu próprio Filho unigênito para que nós pudéssemos ter vida eterna através dele.
E, mais que isso, Ele nos prometeu que “ainda que uma mãe se esqueça do seu filho, contudo eu não me esquecerei de ti” (Is.49:15). E também: “jamais te deixarei; nunca o desampararei” (Hb.13:55). Tudo o que precisamos é ter fé que Deus honrará com a Sua Palavra e que não irá nos abandonar nunca. Não termos esta atitude seria o mesmo que duvidarmos que Deus é Deus o suficiente para honrar com as suas promessas, o que não é apenas incredulidade, mas também uma afronta ao caráter de Deus.
Diante de tudo isso, qual é a nossa atitude? Muitas vezes é de que, na primeira tribulação, luta ou dificuldade que enfrentamos, só fazermos aquelas mesmas três coisas que os israelitas faziam no deserto: murmurar, murmurar e murmurar mais! A nossa verdadeira atitude diante das lutas, tribulações e perseguições deve ser a mesma que Paulo e Silas tiveram em Atos 16, enquanto estavam encarcerados em uma prisão romana. Aquelas prisões, em especial, eram muito piores que as dos dias de hoje.
Amarravam-se os pés dos aprisionados, os presos não podiam se mexer, o local era repleto de ratos e outros bichos, e, para piorar a situação, Paulo e Silas não estavam presos por fazer o mal a alguém, mas por pregar o evangelho! Imagine, nestas circunstâncias, a atitude de muitos crentes dos dias de hoje. Muitos estariam dizendo: “Eu sou servo de Deus, estou pregando o evangelho, e ainda é deste jeito que Deus me retribui? Agora então eu não vou buscar a Deus de jeito nenhum! Chega desta vida!”. Mas, diferentemente, qual foi a reação de Paulo e Silas, que deve servir de exemplo para nós?
Eles, em plena meia-noite, estavam orando e louvando a Deus em voz alta, diante de todos os outros presos! E, então, qual foi a reação de Deus? Um violento terremoto, que abalou os alicerces da prisão e libertou Paulo e Silas da cadeia. E o acontecimento não resultou somente na libertação de Paulo e Silas, mas também na conversão do carcereiro e de toda a sua família. Isso sim que é adorar a Deus nas dificuldades!
Note que Deus não interviu diretamente no sentido de impedir que Paulo e Silas não fossem à prisão. Tampouco Ele lhes libertou quando chegaram lá. Ele só deu a vitória quando viu a reação de Paulo e Silas, que foi de adoração, e não de murmuração! Se Paulo e Silas tivessem ficado quietos ou murmurado, provavelmente a história seria bem diferente.
Da mesma forma acontece conosco. Ao passarmos por tribulações, devemos confiar em Deus e adorá-Lo. Devemos perseverar sempre na oração, como Cristo nos ensinou em Lucas 18:1-8:
“Então Jesus contou aos seus discípulos uma parábola, para mostrar-lhes que eles deviam orar sempre e nunca desanimar. Ele disse: Em certa cidade havia um juiz que não temia a Deus nem se importava com os homens. E havia naquela cidade uma viúva que se dirigia continuamente a ele, suplicando-lhe: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário’. Por algum tempo ele se recusou. Mas finalmente disse a si mesmo: ‘Embora eu não tema a Deus e nem me importe com os homens, esta viúva está me aborrecendo; vou fazer-lhe justiça para que ela não venha me importunar’ . E o Senhor continuou: Ouçam o que diz o juiz injusto. Acaso Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele dia e noite? Continuará fazendo-os esperar? Eu lhes digo: ele lhes fará justiça, e depressa. Contudo, quando o Filho do homem vier, encontrará fé na terra?” (Lucas 18:1-8)
O que Jesus nos ensina nesta parábola é sobre o dever de orar sempre e nunca desfalecer, ainda que pelas circunstâncias nada pareça melhorar para o nosso lado. Assim como aquele juiz não queria a princípio atender ao pedido da viúva, assim também muitas vezes parece aos nossos olhos que Deus está distante ou que não quer nos responder, ainda que Ele esteja sempre disposto a isso.
Se até mesmo aquele juiz injusto atendeu ao pedido da viúva, porque perseverou na oração sem murmurar, quanto mais o próprio Deus atenderá aqueles que clamam a Ele noite e dia! O que Ele deseja de nós é que O adoremos ao invés de murmurarmos contra Ele. Então, Ele vem nos fazer justiça, pois Ele mesmo prometeu que:
“Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta. Qual de vocês, se seu filho pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir peixe, lhe dará uma cobra? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem!” (Mateus 7:7-11)
Receberemos as bênçãos do Senhor, mas somente depois que pedirmos, buscarmos e batermos na porta com persistência. Então, e somente então, veremos as respostas e a provisão divina. Mas, se murmurarmos, estaremos regredindo na fé, e não veremos mudança alguma no quadro problemático em que estamos inseridos; ao contrário, a tendência é piorar mais! Colocar a culpa em Deus é desistir das promessas divinas!
Deus é a única pessoa que pode nos salvar daquela situação. Mas, se murmurarmos ou fazermos guerra contra Ele, estaremos na prática nos rebelando contra a única pessoa que nos poderia salvar! Quem, então, iria nos salvar, se estamos contra o próprio Deus? A Palavra do Senhor atesta que, “se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm.8:31).
Mas o inverso também é verdadeiro. Se você fica contra Deus em alguma situação, quem é que vai o ajudar? Você, ao brigar com Deus, não ganha nada com isso e ainda perde o único aliado e Salvador que lhe poderia dar a vitória. Fará exatamente aquilo que Satanás mais quer ver de você e aquilo que ele mais vive a fazer: lançá-lo contra o próprio Deus a quem você deveria amar acima de todas as coisas. Jesus parece esclarecer no verso 8 daquela mesma parábola mostrada acima, o motivo pelo qual nos últimos dias as pessoas buscarão, mas não encontrarão:
“...Contudo, quando o Filho do homem vier, encontrará fé na terra?” (Lucas 18:8)
Em outras palavras, Jesus está dizendo: “Sabe por que vocês, dos últimos dias, leem essa parábola, mas não conseguem fazer dela uma realidade para a vida de vocês? Porque falta-lhes a fé”! A fé é o elemento mais fundamental para se obter a resposta nas orações. Muitas pessoas reclamam que não veem na vida delas os milagres que Deus prometeu na Bíblia. Reclamam que oram, mas não veem resultados. Que buscam, mas não encontram, que batem e a porta não lhes é aberta.
O que Jesus diz sobre os últimos dias em que nós vivemos é exatamente uma resposta para a indagação de muitos. Porventura encontrará ele fé na terra? A resposta implícita é não. Muitas vezes nós temos até certa esperança de sermos salvos ou de ganharmos alguma coisa de Deus. Alguns creem em Deus para tribulações menores.
Contudo, quando chegam as grandes tempestades e as situações extremas em que a verdadeira fé deveria ser revelada, eles deixam de crer no Deus que é poderoso para fazer o impossível se tornar realidade em sua vida. Creem até certo ponto, mas desistem quando Deus começa a exigir delas a perseverança. E é aí que elas começam a jogar a culpa delas em Deus, brigar e murmurar contra Ele, culminando com o fim da possibilidade de vitória.
O que Deus faz com quem é agradecido a Ele, e que persevera mesmo em meio ás lutas? Faz herdar a terra prometida! Mas o que Ele faz com aqueles que, diante das mesmas situações, apenas murmura, sem dar glória a Deus mesmo nas dificuldades? Exclui da promessa que Ele tem para cada um de nós.
Ele diz em Sua Palavra que não tem prazer em ver a morte do ímpio, e que seu maior desejo é que todos tenham a vida eterna (1Tm.2:4). Ele também afirma que tem planos de paz para nós, e não de guerra (Je.29:11), que tem planos de bem, e não de mal (Je.29:11). Mas isso não é uma atitude unilateral da parte de Deus. Se assim o fosse, todo mundo seria salvo e não haveria qualquer problema no mundo.
O que Deus espera de nossa parte é uma correspondência para com o amor dEle. O que mais esperamos de quem nós amamos? De sermos correspondidos neste amor. O que Deus espera em Seu amor por nós? Que murmuremos? Que deixemos a fé de lado? Que coloquemos Deus “contra a parede”? Absolutamente... não!
O que Deus espera de nós é uma recíproca de fé e amor. Amor a Deus que resulta em boas obras e busca a Deus através da oração, do louvor e da leitura bíblica. E fé em Deus para não desistirmos quando enfrentamos a primeira luta que vier, ou o primeiro desastre que aparecer. Deus espera perseverança até o fim (Mt.24:13), mas para perseverarmos até o limite, temos que ter fé que Deus não deixará que morramos na praia.
Na parábola do semeador, Jesus conta sobre quatro grupos de pessoas. Aqueles que ouvem a palavra de Deus mas imediatamente o maligno a tira do coração. Trata-se daquelas pessoas que ouvem uma pregação, mas não dá cinco minutos para esquecê-la, e não leva aquela mensagem em frente, na prática. O segundo grupo de pessoas são aquelas que desistem na hora da provação, embora no início a guardem com grande ânimo e vontade.
Não adianta apenas ter uma boa intenção para com o evangelho, achar Jesus um “cara legal” ou começar a mil por hora a corrida da fé. O que Deus espera de nós é que continuemos essa corrida até o fim, superando todos os obstáculos (tribulações) em atitude de fé, e não de murmuração. Pois essas pessoas apenas começam a corrida, mas não a terminam.
E a razão? Simplesmente desistem quando veem alguma adversidade pela frente. Igualzinho os israelitas do deserto! O terceiro grupo de pessoas trata-se daquelas que, como no grupo anterior, também acatam a palavra no início, mas desistem não somente por causa das lutas, mas principalmente por causa dos prazeres desta vida.
Acabam ganhando muito dinheiro e ficando gananciosas, querendo cada vez mais, e colocando o dinheiro acima do próprio Deus. Acabam sendo sufocados por jogos de computador, facebook, msn, televisão e mais um monte de entretenimentos que desviam os nossos olhos de Cristo e deixam-nos de buscar a Deus para buscarmos essas coisas. Acabam sendo sufocados, e deixam de buscar a Cristo. Deixam de buscar "o reino de Deus e a sua justiça em primeiro lugar" (Mt.6:33); preferem cuidar das suas atividades do que ficar aos pés de Cristo (cf. Lc.10:38-42).
E, finalmente, o quarto grupo de pessoas são aquelas que ouvem a palavra de Deus com alegria, não desistem na hora da provação, vencem as tentações que vem sobre elas, não são sufocadas pelos prazeres e entretenimentos desta vida, e perseveram até o fim rumo à coroa da glória.
Com qual destes grupos você mais se identifica?
Dos murmuradores, ou dos adoradores?
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)
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