Cristianismo
Em meio à ‘guerra do Rio’, pastores auxiliam na mediação entre traficantes e governo
José Junior do AfroReggae e o pastor Rogério Menezes, que entraram no Complexo do Alemão hoje à tarde, dizem pelo Twitter que já tem gente se rendendo.
No Twitter identificado como o do coordenador do AfroReggae José Junior, o líder do grupo teria afirmado que já tem homens se rendendo no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. “Já tem gente se entregando espontaneamente”, dizia mensagem publicada no programa.
O líder do AfroReggae também teria postado mensagens em que falou sobre sua entrada na favela. “Estou com o pastor Rogerio, Chechena, JB, Cristiano, Bororo e equipe. Viemos por livre e espontânea vontade. Todos os riscos sao da nossa responsabilidade.”.
O pastor Rogério, mencionado por ele, é conhecido por intermediar conflitos com traficantes. “Pastor Rogério é o cara que mais salvou vidas que eu conheço. Muitas inclusive na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemao. Homem de Deus”, afirmou o líder do AfroReggae.
Desde que entrou na favela, no início da tarde deste sábado (27), José Junior manda informações por meio do Twitter sobre as negociações para que os criminosos se rendam. Junior afirmou: “Também convidamos alguns policiais e vi que todos querem resolver da melhor maneira possível.” E falou sobre o sentimento de participar das negociações. “Nessas horas que sentimos a presença de uma força muito maior que nos magnetiza em prol de uma energia maior”.
Rogério Menezes fala em nome dessa ‘força maior’ há bastante tempo nas penitenciárias do Rio. Seu trabalho já foi registrado meses atrás aqui. Ele é considerado um dos maiores, e invisíveis, pacificadores da guerra travada no Rio de Janeiro. Há 17 anos trabalha entrincheirado nos piores núcleos da violência e do crime organizado, tentando pacificar e evangelizar criminosos na ativa ou em presídios. Criou uma reputação e um respeito tão grandes dentro das comunidades e facções que consegue entrar em qualquer favela, conversar com qualquer bandido, qualquer chefe de morro. Nesse momento tão difícil, sua voz parece que tem sido ouvida pelos dois lados do conflito. Observação: A foto acima é a do Pr. Rogério orando com traficantes armados.
Além dele há o pastor presbiteriano Antônio Carlos Costa, que se considera um pacifista. Daí ter idealizado o Movimento Rio de Paz e ter chegado a uma conclusão fundamental, que ultrapassa as centenas de idéias que vêm cruzando o cotidiano nessa luta por segurança no espaço público. E nesse momento, em especial, procura soluções para confronto que se desenrola e explode no Complexo do Morro do Alemão e no Complexo da Penha.
Antonio Carlos está lançando a proposta de pacificação desse relevante conflito que vem crescendo em escala. Não se trata de uma proposta romântica, desconectada da realidade e de tudo que a cerca. Propõe o melhor meio de chegar ao resultado que todos desejamos. Que os traficantes locais sejam afastados, desconectados, desenraizados das comunidades que sufocam e exploram. É para isso mesmo que diversas forças de segurança vêm se empenhando.
A proposta é de que a prisão seja feita através do meio mais econômico, rápido, o único meio que pode poupar recursos e preservar vidas. A rendição. A rendição absoluta e incondicional dos criminosos que as forças de segurança estão perseguindo de perto. Uma proposta ousada, já que estamos em meio ao clamor generalizado (e irresponsável) pelo extermínio total dessas pessoas.
Portanto, se o Governo do Estado do Rio de Janeiro aceitar essa proposta, poderá contar com o apoio de entidades da sociedade civil, religiosos, membros de organismos como a OAB, universidades. Sabemos que já conta com apoio significativo, dirigido à iniciativa presente de perseguir e prender criminosos. Mas aqui o apoio seria mais amplo e coerente. Uma forma de enfrentar o problema e reduzir os custos do enfrentamento, que se encaminha para uma vitória a custa de muita destruição.
Com isso o Governo não atenderá ao incentivo de realizar vingança e extermínio, pelos quais terá que responder mais à frente, concentrando-se nos ganhos evidentes de aceitar que os criminosos se rendam. O Governo dará a eles a chance de não enfrentamento, em momento em que estão em evidente inferioridade. Montará um esquema de mediação, rendição, apresentação ás forças policiais; executará a separação, distribuição, detenção e encaminhamento para o sistema de custódia do Estado, dentro do qual terá separado algumas galerias em determinados estabelecimento prisionais.
A ONG Rio de Paz, entende que, em momento tão crucial da história da cidade, a população deve estar ao lado do seus governantes, para que seja debelado o problema histórico e crônico do terror impingido pelas facções criminosas. Ele escreveu no documento enviado aos governantes:
“Não é momento para divisões. A vitória do Estado é a vitória de toda uma sociedade, que está farta da barbárie e de enterrar seus mortos.
O mundo está de olho no Rio de Janeiro, torcendo para que encontremos solução para a crise da segurança pública, mas atento a fim de saber se o nosso procedimento será de povo civilizado. Estamos diante de grande aceno à democracia: nunca tantos anelaram pela vitória sobre o crime organizado. Estamos diante de grande ameaça à democracia: nunca tantos quiseram a vitória sobre o crime organizado a qualquer preço. A mínima possibilidade de vitória sem derramamento de sangue impõe o dever imperioso de darmos chance à solução pacífica. Pode parecer romântico, mas antes de tudo trata-se de uma demanda da razão e do amor”.
Pelo Twitter, pouco depois das 18h, o pastor Antônio afirmou: ”Não estou podendo falar muito. Todos estão falando em rendição! Estamos apresentando ao governo proposta de comissão p/ rendição.”
Até o momento a idéia de rendição proposta e mediada pelos pastores parece estar dando resultado e o “banho de sangue” temido por muitos não aconteceu.
Fonte: Agência Pavanews, como informações de Ig, Trip, Palavra Plena e O Globo
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