18.3 se vós não converterdes, e fordes como crianças. No sentido de pureza e humildade. O texto mostra que as crianças são naturalmente herdeiras do Reino dos céus, pois elas são um padrão pelo qual alguém teria que se assemelhar para ser salvo.
18.6 melhor que lhe fora que uma grande pedra de moinho lhe fosse pendurada ao pescoço, e se afundasse no fundo do mar. Embora o suicídio seja a destruição da carne, que implica na destruição eterna de quem se matou (v. nota em 1Co.3:17), ele é menos ruim do que trazer a perdição a outras pessoas. Em outras palavras, aos hereges que fazem com que os crentes se percam seria melhor não terem nascido (Mc.14:21) ou morrerem sem levar ninguém junto consigo (Mt.18:6). Cristo não está apoiando o suicídio, mas mostrando o grau de gravidade que incorre a pessoa que conduz outras ao mau caminho.
18.8 corta-os e lança-os de ti. V. nota em Mc.9:45.
18.8 fogo eterno. V. nota em Jd.7.
18.10 seus anjos. Mostra que cada crente possui um anjo particular, popularmente conhecido como “anjo da guarda” (v. nota em At.12:15).
18.14 não é a vontade de vosso Pai... que um destes pequeninos se perca. Deus não quer que nenhum “pequeno” se perca, e por isso providenciou a morte de Cristo como expiação universal para com todos eles. Seria incoerente afirmar que Jesus não morreu por todos os pequeninos, fadando muitos deles à morte eterna, mas mesmo assim desejando que eles sejam salvos, contra toda e qualquer possibilidade anulada pelo próprio Deus.
18.17 dize à igreja. A regra para o crente que está deliberadamente vivendo no pecado é primeiro repreendê-lo pessoalmente, depois na presença de poucas testemunhas, e depois na de muitas testemunhas, diante de toda a comunidade de cristãos. A intenção não é de envergonhá-lo, mas de exortá-lo na tentativa de conduzi-lo ao arrependimento. Contudo, se ele ainda se recusa a se arrepender, deve ser excomungado (1Co.5:13) e considerado mais um descrente, como outro qualquer.
18.18 tudo o que ligardes na terra, será ligado no céu. O contexto mostra que é através da oração (v.19) e da pregação do evangelho (At.14:27). As “chaves”, que são usadas para ligar e desligar no Céu, não são uma prerrogativa apenas de Pedro, mas de todos os demais discípulos. Em Mt.16:19, Cristo diz que daria (tempo verbal no futuro) as chaves a Pedro, mas não diz que as daria somente a Pedro. Esta promessa se cumpriu aqui, em Mt.18:18, com o verbo no plural, como uma referência a todo o corpo apostólico. Assim sendo, as chaves não garantem nenhuma supremacia ou infalibilidade pessoal a Pedro, acima dos demais. Até Paulo e Barnabé usaram as chaves para “abrir a porta da fé aos gentios” (At.14:27), o que acontece quando pessoas a quem o evangelho ainda não havia chegado podem ouvir as boas novas.
Além disso, o poder das chaves e o “ligar e desligar” está diretamente relacionado ao poder da oração. No v.18 Cristo fala sobre ligar e desligar, e logo no versículo seguinte ele diz que, onde dois ou três estiverem orando em seu nome, ali ele estaria no meio deles. Quando Deus criou o homem, Ele lhe deu a autoridade sobre a terra (Sl.115:16), e confiou todas as coisas às orações dos crentes. Assim, quando oramos por alguma coisa estamos “ligando” essa coisa aos céus em oração, para que Deus conceda de acordo com a vontade dele. Mas, quando deixamos de orar, estamos “desligando” esse canal divino com o homem, pelo qual Ele condicionou todas as coisas. Por isso existem coisas que recebemos pela oração e que não receberíamos se não tivéssemos orado (desligado no Céu), e coisas que não recebemos e que teríamos recebido caso tivéssemos orado (ligado no Céu).
18.19 qualquer coisa que pedirem. Logicamente, há uma condição implícita neste princípio, que é a vontade de Deus. Ele não vai atender literalmente “qualquer coisa” que alguém pedir. Se alguém pedir para tomar o lugar de Deus, ou para ganhar duzentas vezes na loteria, ou para nunca mais ter nenhuma doença ou tribulação e viver sempre rico e feliz, ele não será respondido positivamente, pois está se posicionando contra a vontade de Deus, que é a única condição implícita na resposta à oração (1Jo.5:14). É por isso que Paulo orou para ser curado de seu espinho na carne, mas não foi (2Co.12:8-9).
18.23-35 A parábola mostra a dívida do homem para com Deus e do homem para com o seu próximo. A dívida que Deus perdoou o homem pelo pecado é enorme, pois nós naturalmente somos merecedores da morte eterna por nossos pecados (Rm.6:23), mas Jesus quitou essa dívida na cruz do Calvário quando expiou os pecados da humanidade, de modo que aquele que se apropria dessa justificação pela fé torna-se co-participante de Cristo no Reino celestial (Rm.8:17). Mas, ao mesmo tempo em que Cristo nos perdoou de uma dívida eterna, existem pessoas que nos fizeram mal e que devemos perdoá-las da mesma forma que Cristo nos perdoou. Essa dívida do próximo para conosco é infinitamente inferior à dívida nossa para com Deus, assim como a diferença entre dez mil talentos e cem denários na parábola (um talento era o equivalente a seis mil denários, o que mostra que a dívida do homem para com o Senhor era impossível de ser paga por ele, mas que a dívida do homem para com o homem poderia ser facilmente quitada). Ao negligenciarmos o perdão para com o próximo, estamos nos esquecendo que Cristo nos perdoou de uma dívida infinitamente maior. A lição final da parábola é que aquele que não perdoa o próximo de uma dívida humana não pode obter o perdão de Deus de uma dívida eterna. É porque Deus nos perdoou em Cristo que temos a obrigação e o dever de exercer perdão para com o próximo nesta vida.
18.34 até que pagasse tudo o que lhe devia. V. nota em Mt.5:26.