Comentários de Marcos 6
Cristianismo

Comentários de Marcos 6


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Este capítulo faz parte da obra: “O Novo Testamento Comentado”, de autoria de Lucas Banzoli e de livre divulgação.
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1. E partiu-se dali, e veio à sua terra, e seus discípulos o seguiram.
2. E chegado o sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ouvindo-o, se espantavam, dizendo: 
De onde [vem] a este estas coisas? E que sabedoria é esta que lhe é dada? E tais maravilhas que por suas mãos se fazem?
3. Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas, e de Simão? E não estão aqui conosco suas irmãs? 
E ofendiam-se nele.
4. E Jesus lhes dizia: 
Não há profeta sem honra, a não ser em sua terra, e entre [seus] parentes, e em sua casa.
5. E não podia ali fazer nenhuma maravilha; somente, pondo as mãos sobre uns poucos enfermos, os curou.
6. E estava maravilhado da incredulidade [deles]. E percorria as aldeias do redor, ensinando.
7. E chamou a si aos doze, e começou a enviar de dois em dois; e deu-lhes poder sobre os espíritos imundos.
8. E mandou-lhes que não tomassem nada para o caminho, senão somente um bastão de apoio; nem bolsa, nem pão, nem dinheiro na cinta.
9. Mas que calçassem sandálias; e não se vestissem de duas túnicas.
10. E dizia-lhes: 
Onde quer que entrardes em casa alguma, ficai ali até que dali saiais.
11. E todos aqueles que não vos receberem, nem vos ouvirem, saindo dali, sacudi o pó que estiver debaixo de vossos pés, em testemunho contra eles. Em verdade vos digo, que mais tolerável será a[os de] Sodoma ou Gomorra no dia do juízo, do que a[os d]aquela cidade.
12. E saindo eles, pregavam que se arrependessem.
13. E expulsavam a muitos demônios, e ungiam com azeite a muitos enfermos, e os curavam.
14. E ouviu-o o rei Herodes (porque já seu nome era notório) e disse: 
João, o que batizava, é ressuscitado dos mortos; e portanto estas maravilhas operam nele.
15. Outros diziam: 
É Elias; 
e outros diziam: 
É profeta, ou [é] como algum dos profetas.
16. Porém ouvindo Herodes [isto], disse: 
Este é João, ao qual eu cortei a cabeça; [ele] é ressuscitado dos mortos.
17. Porque o mesmo Herodes tinha enviado, e prendido a João, e tinha o acorrentado na prisão, por causa de Herodias, mulher de Filipe seu irmão, porque se casara com ela.
18. Porque João dizia a Herodes: 
Não te é lícito ter a mulher de teu irmão.
19. E Herodias o espiava, e o queria matar, e não podia.
20. Porque Herodes temia a João, sabendo que era homem justo e santo, e o estimava; e ao ouvi-lo, fazia[-lhe] muitas coisas, e o ouvia com agrado.
21. E vindo um dia oportuno, em que Herodes, no dia de seu nascimento, dava uma ceia a seus grandes, e comandantes, e aos chefes da galileia;
22. E entrando a filha da mesma Herodias, e dançando, e agradando a Herodes, e aos que estavam juntamente [com ele]; disse o Rei à menina: 
Pede-me quanto quiseres, e eu darei a ti.
23. E jurou-lhe: 
Tudo o que me pedirdes te darei, até a metade de meu reino.
24. E saindo ela, disse a sua mãe: 
Que pedirei? 
E ela disse: 
A cabeça de João Batista.
25. E entrando ela logo apressadamente ao rei, pediu, dizendo: 
Quero que agora logo me dês em um prato a cabeça de João Batista.
26. E o rei se entristeceu muito; [mas] por causa dos juramentos, e dos que juntamente à mesa estavam, não quis negar a ela.
27. E logo o rei, enviando o executor, mandou trazer ali sua cabeça. E ele, tendo ido, decapitou-o na prisão;
28. E trouxe sua cabeça em um prato, e o deu à menina; e a menina a deu a sua mãe.
29. E ouvindo-o seus discípulos, vieram e tomaram seu corpo morto, e o puseram em um sepulcro.
30. E os apóstolos [voltaram] a se juntar a Jesus, e anunciaram-lhe tudo, tanto o que tinham feito, como o que tinham ensinado.
31. E ele lhes disse: 
Vinde vós aqui à parte a um lugar deserto, e repousai um pouco; porque havia muitos que iam e vinham, e não tinham lugar de comer.
32. E foram-se em um barco, a um lugar deserto à parte.
33. E as multidões os viram ir, e muitos o conheceram; e correram para lá a pé de todas as cidades, e vieram antes que eles, e chegavam-se a ele.
34. E saindo Jesus, viu uma grande multidão, e moveu-se a íntima misericórdia deles; porque eram como ovelhas que não têm pastor, e começou-lhes a ensinar muitas coisas.
35. E quando já era a hora tardia, vieram seus discípulos a ele, e disseram: 
O lugar é deserto, e a hora já é tardia;
36. Despede-os, para que vão aos lugares e aldeias ao redor, e comprem pão para si; porque não têm que comer.
37. Porém respondendo ele, disse-lhes: 
Dai-lhes vós de comer. 
E eles lhe disseram: 
Iremos [pois], e compraremos duzentos dinheiros de pão, e lhes daremos de comer?
38. E ele lhes disse: 
Quantos pães tendes? Ide, e vede. 
E eles sabendo-o, disseram: 
Cinco, e dois peixes.
39. E mandou-lhes que fizessem sentar a todos em grupos sobre a erva verde.
40. E sentaram-se repartidos de cem em cem, e de cinquenta em cinquenta.
41. E tomando ele os cinco pães e os dois peixes, levantou os olhos ao céu, abençoou, e partiu os pães, e deu-os a seus discípulos, para que os pusessem diante deles. E os dois peixes repartiu a todos.
42. E comeram todos, e fartaram-se.
43. E levantaram dos pedaços doze cestos cheios, e dos peixes.
44. E eram os que comeram os pães quase cinco mil homens.
45. E logo ordenou a seus discípulos a subirem no barco, e ir diante para o outro lado, em Betsaida, enquanto que ele despedia a multidão.
46. E havendo-os despedido, foi ao monte para orar.
47. E vinda a tarde, estava o barco no meio do mar, e ele só em terra.
48. E viu que se cansavam muito remando, (porque o vento lhes era contrário); e perto da quarta vigília da noite, veio a eles andando sobre o mar, e queria passar deles.
49. E eles, vendo-o andar sobre o mar, pensaram que era fantasma, e deram grandes gritos.
50. Porque todos o viam, e se perturbaram; e logo falou com eles, e disse-lhes: 
Tende bom ânimo, sou eu, não temais.
51. E subiu a eles no barco, e o vento se aquietou; e grandemente se espantavam entre si, e se maravilhavam.
52. Porque não tinham entendido [ainda o milagre] dos pães; porque o coração deles estava endurecido.
53. E quando terminaram de atravessar o mar, vieram à terra de Genesaré, e ali aportaram.
54. E saindo eles do barco, logo o conheceram.
55. [E] correndo de toda a terra ao redor, começaram a trazer em camas os doentes, aonde quer que ouviam que estava.
56. E aonde quer que entrava, em lugares, ou cidades, ou aldeias, punham nas praças aos enfermos, e suplicavam-lhe que somente tocassem a borda de sua roupa; e todos os que o tocavam, saravam.





6.1 veio à sua terra. Nazaré (Mt.21:11).

6.3 não é este o carpinteiro. Seus conterrâneos de Nazaré se assustaram por ver aquele jovem humilde que viveu sempre como um simples carpinteiro entre eles ter se transformado em um eloquente pregador da Palavra, com sabedoria e com os milagres que o acompanhavam. Jesus não dava nem sinais disso antes de iniciar seu ministério (aos 30 anos), o que causou espanto em todos, inclusive em sua própria família (v.4). O fato de Jesus ter sido aquele carpinteiro acabou virando o centro das atenções, em lugar daquilo que Jesus estava ensinando. Seus ouvintes permaneciam incrédulos (v.5) e não lhe prestaram a devida honra que merecia (v.4).

6.3 irmão de Tiago, e de José, e de Judas, e de Simão. Irmãos de sangue, filhos de Maria e José. Diversos fatores corroboram em favor disso. Primeiro, porque Maria não foi eternamente virgem, mas somente até o nascimento de Jesus (v. Mt.1:25 e nota). Segundo, porque a Bíblia em momento nenhum diz que Jesus era o filho único de Maria, mas o seu “primogênito”, o primeiro de outros irmãos (v. Mt.1:25 e nota). Terceiro, porque esses irmãos de Jesus estavam sempre acompanhados de sua mãe (Maria), o que depõe contra o fato de serem apenas “primos” (Mc.3:31; Mt.12:46; Lc.8:19; At.1:14). Quarto, porque quando a expressão "irmãos e irmãs" é aplicada juntamente com "pai" ou "mãe", o sentido nunca é de primos e primas, mas sempre de irmãos e irmãs de fato (v. Lc 14:26 com Mc.6:3). Quinto, porque o v.4 diz que Jesus não tinha honra em sua terra (Nazaré), nem entre seus parentes (primos, tios, avós), e nem em sua própria casa (pais e irmãos). Isso mostra que os irmãos que João diz que não criam nele (Jo.7:5) eram mais próximos do que apenas “parentes”. Se José já estava morto e Maria cria em Jesus, então quais eram esses da sua “casa”, que eram mais próximosque os “parentes” (que já haviam sido mencionados) e que não criam em Cristo?

Sexto, porque o grego (idioma em que o NT foi escrito) possuía claramente palavra para irmão (adelphos) e palavra para primo (anepsios), assim como o português. E os irmãos de Jesus são sempre, sem exceção, chamados de “adelphos” (irmãos – Mt.12:48; 12:46; 13:55; Mc.3:31-35; Lc.8:20-21; Jo.2:12; 7:5; 7:3; 7:10; At.1:14; 1Co.9:5; Gl.1:19), e nunca de “anepsios”, como, por exemplo, Marcos é chamado, em relação a Barnabé (Cl.4:10). Apenas o aramaico não possuía distinção entre “irmão” e “primo”, coisa que o grego koiné(idioma do NT) já tinha. Por fim, se os escritores bíblicos não quisessem inferir que os irmãos de Jesus eram realmente irmãos, bastaria que empregassem a expressão comum e muito usada no NT para “parentes” (que deixa o grau de parentesco indefinido), que é suggenis, que foi usado cinco vezes no NT (Lc.1:36; 1:61; At.7:3; Jo.18:26; Rm.16:11), mas nunca foi usado em nenhuma das 12 referências aos irmãos de Jesus. Portanto, a evidência de que os irmãos de Jesus eram de fato irmãos, e não primos, é esmagadora.

6.5 não podia. O texto não diz que Jesus “não quis” fazer milagres ali, e sim que ele “não pôde” fazer os milagres. Assim como na questão da onisciência (v. nota em Mc.5:30), isso indica que Jesus não tinha ou não usava o atributo da onipotência enquanto homem. O milagre não dependia só da vontade de Jesus (onipotência), mas também da fé dos que eram (ou não) curados.

6.11 mais tolerável será aos de Sodoma ou Gomorra. V. nota em Mt.10:15.

6.12 pregavam que se arrependessem. É interessante notar que a primeira coisa pregada por João Batista foi o arrependimento (Mt.3:2), que a primeira coisa pregada por Jesus foi o arrependimento (Mt.4:17) e que a primeira coisa pregada pelos discípulos foi o arrependimento (Mc.6:12). Isso mostra que o arrependimento possuía atenção central e primordial no evangelho, e que era a porta de entrada para todos os demais ensinos. É inútil que uma pessoa que não se arrependa venha a ter conhecimento sobre os mistérios mais profundos do Reino de Deus, pois este conhecimento só acrescentaria algo na vida da pessoa se ela já estivesse em Cristo, alicerçada na fé. Dar alimento sólido a bebês ou pregar outras coisas a pessoas mortas não faz o menor sentido. Primeiro elas tem que ressuscitar espiritualmente, e, uma vez vivas, possam ouvir e entender o conteúdo sólido da fé. É por isso que Jesus falava à multidão por meio de parábolas (Mt.13:34), pois ela ainda não tinha maturidade suficiente para receber o alimento sólido (v. nota em Hb.5:11-14).

6.34 ovelhas que não têm pastor. V. nota em Mt.9:36.

6.37 duzentos denários. Um denário era o equivalente a um dia de trabalho (Mt.20:2). Duzentos denários, portanto, era o equivalente a 8 meses. Os discípulos nem de longe tinham tanto dinheiro – o que mais uma vez confirma que eles não eram ricos. Tudo o que eles tinham se resumia a cinco pães e dois peixes (v.38).

6.46 foi ao monte para orar. Jesus passava muito tempo com a multidão, mas havia momentos em que ele ficava a sós com os seus discípulos (Mt.20:17) e momentos (em geral às noites) em que Jesus fazia questão de ficar longe de tudo e de todos, se retirando sozinho para procurar um lugar a sós com Deus, para estar com ele em oração. Isso mostra a importância de se ter um momento individual com Deus todos os dias, no seu quarto, fechando a porta e orando a seu Pai, que está no secreto (Mt.6:6). Não devemos orar somente quando estamos na igreja, no meio da multidão. Devemos ter todos os dias momentos diários em secreto com Deus, onde possamos abrir nossos corações diante dele, assim como Jesus fazia. Um relacionamento com profundidade só é construído através de momentos como esses, onde deixamos tudo de lado para ficarmos somente com Ele. Fora disso, qualquer outro tipo de relacionamento é superficial e tende a chegar ao fim.

6.52 não tinham entendido ainda. A ficha não havia caído. Eles haviam acabado de presenciar um milagre espetacular com os pães e peixes, mas não conseguiam crer que Jesus pudesse andar sobre as águas ou parar a tempestade. Se eles tivessem caído em si com o primeiro milagre, não ficariam surpresos com qualquer coisa sobrenatural que vissem dali em diante. Por algum momento os discípulos foram como os israelitas no deserto, que viram os maiores milagres que o homem já contemplou – mar abrindo, água saindo da rocha, maná caindo do céu, as dez pragas do Egito e muito mais – e mesmo assim murmuravam contra Moisés na incredulidade em relação a qualquer coisa que lhes acontecesse, como se tivessem esquecido de tudo aquilo que viram acontecer diante de seus próprios olhos.

6.56 tocassem a borda de sua roupa. V. nota em Mc.5:28.



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