Caio Fábio e a polêmica sobre a inerrância da Bíblia
Cristianismo

Caio Fábio e a polêmica sobre a inerrância da Bíblia


Depois do “apedrejamento” do Pr. Ricardo Gondim, chegou a vez do Pr. Caio Fábio receber a placa de “herege”. Apesar de discordar de alguns posicionamentos teológicos do Gondim, sempre disse aqui no blog que não o considerava herege, no máximo alguém que está confuso passando por uma “crise existencial de Asafe”.

Agora, mais uma declaração do reverendo Caio Fábio tem dividido opiniões. O debate sobre a Bíblia e sua coerência literária, cronológica e doutrinária foi acirrado com declarações do reverendo Caio Fábio, que numa entrevista, afirmou que “o cristianismo nunca leu a Bíblia tendo Jesus como chave hermenêutica”.

Em sua opinião, a Bíblia deve ser lida a partir da perspectiva de Jesus, e todo o restante, interpretado sob esse ponto de vista. O vídeo com as declarações do reverendo Caio Fábio está fazendo sucesso nas redes sociais, após a divulgação por parte de alguns blogueiros.

Questionado sobre quais seriam os motivos de os concílios que decidiram o tamanho, formato e conteúdo da Bíblia não terem corrigido ou extraído questões do Velho Testamento que foram anuladas por Jesus após seu sacrifício, Caio Fábio afirmou que “o que prevaleceu foi a hermenêutica ‘Constantiniana’”, fazendo referência à tentativa de moldar a Bíblia de forma linear e coerente.

Sobre a Bíblia, Caio Fábio disse que no livro, foi aplicada uma “hermenêutica que tenta sistematizar a Bíblia inteira, para fazê-la ser um livro coerente consigo mesmo tempo todo, em cada página, em cada verso, em cada letra”, e emenda dizendo que “é impossível, e quem diz que ela consegue [ser coerente] está mentindo”.

O reverendo frisa em sua argumentação sobre a incoerência da Bíblia e afirma que “ela não é inerrante”, e aponta as falhas que enxerga no livro: “Ela tem erros literários, tem erros cronológicos, dá saltos generacionais e só fica em cima das figuras pivotais mais importantes para marcar a história”.

Caio Fábio é incisivo ao falar que a Bíblia foi um livro feito por homens: “[A Bíblia] não quer ser um livro de ciência para saber como o mundo começou. Ela é um livro do homem. Ela não é nem o livro de Deus, porque sinceramente, Deus tem livros infinitamente melhores do que a Bíblia para escrever, só que a gente não compreende”.

Complementando sua declaração a respeito da Bíblia, Caio Fábio afirma que ela “é o livro possível para minha compreensão. Não só a minha de hoje, mas a compreensão da humanidade nos últimos quatro mil anos. É o livro possível. O grande milagre da Bíblia é carregar esse conteúdo divino, na relatividade de um livro, preso ao tempo, espaço, escrito por homens”.

Meu Comentário:
Em nome da Apologia cristã, alguns blogueiros acusaram Caio Fábio de: atacar as bases da fé cristã, além de ser herege e um fraco teólogo liberal e até mesmo ser a boca da serpente do Éden, aliado de Satã, e outros “elogios” mais.

O erro do Caio foi chamar as coisas pelo nome. Se em vez de ter dito que havia erros na Bíblia, ele usasse termos politicamente e evangelicamente corretos como o fez o Pr. Augustus Nicodemus, não haveria problema algum. O Pr. Nicodemus num vídeo do youtube (URL: http://www.youtube.com/embed/N0x5fYaHShU) que está na postagem "A Heresia Biblicista" no blog, O Tempora, o Mores, diz o seguinte sobre a inerrância da Bíblia: “há pontos difíceis e algumas contradições na Bíblia que ainda não entendemos, mas que um dia arqueologia vai explicar”.

Pois é, não é de hoje que os evangélicos gostam de disfarçar as palavras. Me lembro quando os cantores evangélicos passaram a cobrar ingressos em suas apresentações, mas não podia usar a expressão “show”, que soava mundano. Então diziam: “olha vai haver uma noite de louvor”. Depois mudaram o nome para “louvorzão”, e agora ou porque perderam a vergonha ou são mais sinceros que antigamente, usam o termo que realmente descreve o evento: “show gospel”.

A Escritura é fundamento de fé para todos os cristãos que acreditam que suas páginas foram inspiradas por Deus. É preciso considerar que ainda que Deus a tenha inspirado (e não estamos discutindo o conceito de inspiração), a Bíblia é um livro escrito por mãos humanas, com todas as implicações que esse fato carrega.

Acreditar que há erros na Bíblia não significa ser um liberal teológico, mas simplesmente se encantar mais com a Palavra de Deus. Primeiramente, é preciso esclarecer o que é uma pessoa que adotou o liberalismo teológico. Apesar de se denominar cristão, um liberal é alguém que nega que eventos sobrenaturais podem acontecer. São “cristãos” que negam que Jesus ressuscitou, negam os milagres, negam que Deus seja Todo-poderoso, entre outras coisas. Essa é uma explicação simplista e generalizada, mas que pode ser útil.

A Bíblia não caiu do céu pronta e acabada, mas homens inspirados por Deus, impressionados por Seu Espírito, escreveram sobre a história de salvação e vida eterna. Se nela há erros e pequenas contradições, que não comprometem sua história central e as crenças cristãs fundamentais, é porque Deus decidiu tornar o ser humano participante de algo muito grande, indescritível e inimaginável. O processo de composição deste livro milenar também mostra que essa história não foi fabricada e combinada. Pelo contrário, foi contada e recontada várias vezes pelas pessoas que presenciaram os eventos daqueles dias.

Os erros que estão na Bíblia não comprometem nenhuma doutrina basilar do cristianismo. São encontrados em detalhes periféricos. Os autores da Bíblia eram humanos, e errar ocorre com qualquer um. Portanto, a pequena contradição entre se as mulheres foram ao túmulo de Jesus quando era noite ou ao pôr-do-sol não é sinal de que elas não foram lá. Se havia um ou dois anjos na tumba, não compromete o fato de que Aquele que morreu, reviveu.

Chamo a atenção aqui para ter cuidado em ir de pronto, e taxando com facilidade as pessoas como herege. Ao consultar a história, vemos que Calvino em nome “da defesa da fé”, um dia condenou a fogueira, Miguel de Cerveto, por conta de debates sobre a Santíssima Trindade. O dia em que Caio, ou seja lá quem for, disser que Jesus não veio em carne, que Ele não é o Filho de Deus, nem é o caminho, a verdade e a vida, aí sim, concordarei que se trata de uma heresia inspirada pelo espírito do anticristo. Caio não é teólogo liberal, nem herege, no máximo alguém próximo da neo-ortodoxia, adepto da escola teológica de Karl Barth, de quem provavelmente ele copiou algumas idéias, mas não citou a fonte, antes diz que descobriu sozinho lendo a Bíblia.














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