Além disso, no budismo, a dor é apenas um sentido, e cresceu em nós em razão das banalidades da posse e do desejo de ser dono — egoísmo é o nome disso; ou, conforme a Bíblia, pecado —; razão pela qual a compaixão é vista como o antídoto contra o mal do desejo egoísta. Já na revelação bíblica, tal egoísmo, não é apenas uma deseducação dos sentidos, mas sim uma perversão do ser, o qual, não foi criado com tais sentires, mas os adquiriu pela alienação de Deus: pecado.
Assim, no budismo o homem tem que esquecer de si a fim de ser iluminado pelo exercício disciplinado da compaixão. Já na fé de Jesus o homem tem que saber de si, de seu pecado, de sua alienação, para, então, não pela via da autodisciplina, mas da fé que se rende ao amor de Deus, receber a benção da metanóia, do arrependimento, da mudança de mente; e, assim, aceitar a pacificação que Jesus já realizou entre o homem e Deus, e entre o homem e seu próprio coração, bastando, para que tal benefício aconteça, que ele creia e se entregue, sem justiça-própria, à justiça de Deus a ele imputada.
Ora, nesse caso, até a virtude da compaixão, quando vista como virtude própria, se torna em justiça-própria, o que anula o canal da Graça em sua manifestação no homem que se jacta de ser quem é; ainda que seja a jactância silenciosa e discreta da bondade e da compaixão. Desse modo, no budismo, a compaixão é uma obra do homem, a fim de que por ela ele mesmo venha a ascender a estágios superiores aos do egoísmo animal, assim unindo-se ao Nada-Tudo Cósmico.
Na fé de Jesus, no entanto, a compaixão e o perdão, não são virtudes próprias, mas dons da Graça de Deus (favor imerecido), e surgem apenas como fruto natural da gratidão que vem da consciência da total reconciliação com Deus. Assim, no budismo, a vida é vivida pela disciplina e pela negação. Já na fé de Jesus, o justo vive pela fé, e, tal fé, não é um exercício humano, mas tão somente o fruto de uma gratidão pelo que já foi e está Feito.
No budismo, portanto, o caminho é de evasão do mundo. Porém, na fé de Jesus, o caminho é de inserção no mundo. No budismo o homem tenta chegar a Deus. No entanto, na fé de Jesus, é Deus quem se chega ao homem: Emanuel.
Desse modo, tenho muito respeito e compaixão pelos budistas sinceros e sérios, pois sei que buscam a verdade como podem e com total dedicação. No entanto, é um caminho de busca... sempre de busca, nunca de encontro. E, quando há o encontro, quase sempre é fruto apenas de um treinamento da mente, e não uma visitação de amor no coração, independentemente de busca ou exercício.
Para mim o budismo está mais para uma Psicologia Profunda da Negação do que para um Caminho de Vida na Terra! No budismo não há “Deus”. Não um Deus pessoal, capaz do amor e de ter compaixão. Daí, não haver busca de perdão no budismo, mas apenas busca de renuncia. Já na fé de Jesus, Deus é Pai e Pessoa, e com Ele se pode ter uma relação de amor, diálogo, briga, luta, paixão, guerra, obediência, desobediência, alegria, tristeza, amor, raiva, frustração, realização, oração, intercessão, conformação, inconformação, entrega, ou luta para não ceder... Mas sempre se tem Encontro Pessoal com Deus.
No budismo, todavia, o deus existente não-sabe-de-si, sendo que os humanos é que dão a ele tais sentidos... Daí a compaixão budista ser também uma espécie de empréstimo dos sentidos de amor ao ‘deus’ que não ama. Desse modo, na prática, ‘deus’ depende do homem para que amor e compaixão sejam conhecidos. Porém na fé de Jesus, nós só amamos porque Ele nos amou primeiro.
Enfim, no budismo os movimentos são do homem para ‘deus’. Na fé de Jesus o movimento é de Deus para o homem, e as ações do homem, as que são carregadas de significado, são todas aquelas que se constituem em resposta do ser ao toque do amor de Deus, seja de modo consciente ou até inconsciente. No budismo o homem tenta subir... Na fé de Jesus, é Deus quem já desceu... e fez Sua morada entre nós, e habita o ser de todo aquele que crê.
Por esta razão, no budismo, tudo é processo... Já na fé de Jesus, há processos, mas eles apenas seguem aquilo que é sempre um ‘átimo’ de revelação, um susto de amor, uma paixão cheia de subiteza, e que nos prende o coração. Ora, a gente poderia ficar aqui para sempre, visto que as diferenças parecem pequenas, porém, no fundo, são enormes e muitas.