Comentários de João 13
Cristianismo

Comentários de João 13


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Este capítulo faz parte da obra: “O Novo Testamento Comentado”, de autoria de Lucas Banzoli e de livre divulgação.
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1 E antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que sua hora já era vinda, para que deste mundo passasse para o Pai, havendo amado aos seus, que estavam no mundo, até o fim os amou. 
2 E terminada a ceia, o diabo já havia metido no coração de Judas de Simão Iscariotes, que o traísse. 
3 Sabendo Jesus que o Pai já tinha lhe dado todas as coisas nas mãos, e que ele era vindo de Deus, e para Deus ele iria, 
4 Levantou-se da ceia, e tirou as roupas, e tomando uma toalha, envolveu- [a] em si; 
5 Depois pôs água em uma bacia, e começou a lavar os pés dos discípulos, e limpá-los com a toalha com que estava envolto. 
6 Veio, pois, a Simão Pedro; e ele lhe disse: Senhor, tu a mim lavas meus pés? 
7 Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que eu faço tu não o sabes agora; mas depois o entenderás. 
8 Disse-lhe Pedro: Nunca lavarás meus pés. Respondeu-lhe então Jesus: Se eu não te lavar, não tens parte comigo. 
9 Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, [lava] não só meus pés, mas também as mãos e a cabeça. 
10 Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita lavar, a não ser os pés, mas está todo limpo. E vós limpos estais, porém não todos. 
11 Porque ele bem sabia quem o trairia; por isso disse: Nem todos estais limpos. 
12 Quando então, tendo eles lavado os pés, e tomado suas roupas, voltou a se sentar [à mesa] , e disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito? 
13 Vós me chamais Mestre, e Senhor, e bem dizeis; que eu o sou; 
14 Pois se eu, o Senhor, e o Mestre, tenho lavado vossos pés, também vós deveis lavar vossos pés uns aos outros. 
15 Porque vos tenho dado exemplo, para que como eu vos tenho feito, façais vós também. 
16 Em verdade, em verdade vos digo, [que] o servo não é maior que seu senhor; nem enviado maior que aquele que o enviou. 
17 Se sabeis estas coisas, sereis bem-aventurados se as fizerdes. 
18 Não digo de todos; bem sei eu aos que tenho escolhido; mas para que se cumpra a Escritura, [que diz] : O que come comigo, levantou contra mim seu calcanhar. 
19 Desde agora, antes que se faça, digo-o a vós, para que, quando se fizer, creiais que eu sou. 
20 Em verdade, em verdade vos digo, [que] se alguém receber ao [que] eu enviar, a mim me recebe; e quem a mim me receber, recebe a aquele que me enviou. 
21 Havendo Jesus dito isto, perturbou-se em espírito, e testemunhou, e disse: Em verdade, em verdade vos digo, que um de vós me trairá. 
22 Pelo que os discípulos se olhavam uns para os outros, duvidando de quem ele dizia. 
23 E um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava sentado [à mesa encostado] no seio de Jesus. 
24 A este pois fez sinal Simão Pedro, que perguntasse quem era aquele de quem ele dizia. 
25 E declinando-se ele ao peito de Jesus, disse-lhe: Senhor, quem é? 
26 Respondeu Jesus: Aquele a quem eu der o pedaço molhado de pão. E molhando o pedaço de pão, deu-o a Judas de Simão Iscariotes. 
27 E após o pedaço de pão, entrou nele Satanás. Disse-lhe pois Jesus: O que fazes, faze-o depressa. 
28 E nenhum dos que estavam sentados [à mesa] entendeu para que ele lhe dissera. 
29 Pois alguns pensavam que, porque Judas tinha a bolsa, Jesus havia lhe dito: Compra o que para o que nos é necessário para a festa; ou que alguma coisa desse aos pobres. 
30 Havendo ele pois tomado o pedaço de pão, logo saiu. E já era noite. 
31 Tendo, pois, ele saído, disse Jesus: Agora o Filho do homem é glorificado, e Deus é glorificado nele. 
32 Se Deus nele é glorificado, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o glorificará. 
33 Filhinhos, ainda um pouco estou convosco. Vós me buscareis; e tal como eu aos Judeus: Para onde eu vou, vós não podeis vir; assim também o digo a vós agora. 
34 Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; tal como eu vos amei, também ameis vós uns aos outros. 
35 Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: se vós tiverdes amor uns aos outros. 
36 Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde vais? Respondeu-lhe Jesus: Para onde eu vou tu não podes me seguir agora; porém depois me seguirás. 
37 Disse-lhe Pedro: Senhor, por que agora não posso te seguir? Por ti eu darei minha vida. 
38 Respondeu-lhe Jesus: Por mim darás tua vida? Em verdade, em verdade te digo, que o galo não cantará, até que três vezes me negues.





13.2 o diabo já tinha metido no coração de Judas. Sem saber, o diabo estava contribuindo para que a missão de Jesus se completasse com êxito. Embora ele pensasse que estava usando Judas para destruir a missão de Jesus (por não compreender a missão dele corretamente), na verdade estava ajudando a cumprir as profecias já proferidas a respeito de Cristo e da traição que sofreu. Isso mostra que, pelo menos em alguns casos, Satanás é um agente que “trabalha” para Deus, no sentido de cumprir os desígnios divinos mesmo quando pensa que está agindo em contrário (o que obviamente não significa, no entanto, que todas as ações de Satanás sejam “usadas” por Deus para um bom propósito). Na história de Jó, Satanás pensava estar destruindo o homem mais justo de toda a terra, quando na verdade apenas o fortaleceu por dentro e provou que ainda há gente que vive para Deus por aquilo que Ele é, e não apenas por o que Ele tem a oferecer.

13.5 começou a lavar os pés dos discípulos. Embora este ato nos dias de hoje possa não parecer tão surpreendente, naquela cultura judaica era simplesmente humilhante alguém lavar os pés de outra pessoa (tal tarefa era feita apenas por escravos). Jesus mostrou na prática que de fato não veio “para ser servido, mas sim para servir” (Mt.20:28). O mais importante da lição, no entanto, é que todos nós temos que fazer o mesmo, “lavando os pés” de nossos irmãos (v.15), em sinal de humildade e servidão. Devemos “servir uns aos outros em amor” (Rm.12:10), deixando que o nosso “eu” diminua, e que Ele cresça.

13.15 vos tenho dado o exemplo. V. nota anterior.

13.16 nem o enviado é maior do que aquele que o enviou. Pedro foi enviado pelos apóstolos a Samaria (At.8:14), ao invés de estar ele mesmo à frente de todos os apóstolos e enviando os outros. Segundo o dito de Cristo, o enviado não é maior que aqueles que o enviam. Pedro, portanto, não era “maior” que os outros apóstolos, para exercer um “primado” sobre eles, como diz a Igreja Romana.

13.18 para que se cumpra a Escritura. V. nota em Mt.26:24.

13.19 creiais que eu sou. V. nota em Jo.8:58.

13.20 a mim me recebe. Paulo disse que somos “embaixadores de Cristo” (2Co.5:20). Se somos enviados em nome de Cristo, nos receber ou nos rejeitar é como receber ou rejeitar o próprio Cristo que nos enviou em seu nome.

13.23 a quem Jesus amava. Trata-se de João, o autor deste evangelho. As evidências que apontam isso são: (a) o discípulo amado era um dos doze discípulos (Jo.21:20-24); (b) ele fazia parte do círculo mais íntimo de Jesus, entre os quais estavam apenas Pedro, Tiago e João (Mc.5:37; 14:33; Lc.9:28; Mt.17:1); (c) Pedro não poderia ser, pois ele é claramente distinguido do discípulo amado em várias ocasiões (Jo.13:24; 20:2; 21:20); (d) Tiago também não poderia ser, pois ele morreu bem cedo (At.12:2), em 44 d.C, muito antes de dar tempo da teoria de que o discípulo amado não morreria se espalhasse pelas décadas seguintes (Jo.21:21-23); portanto, resta-nos João. Em acréscimo a isso, podemos mencionar: (a) o fato de João não ter sido citado nominalmente em seu próprio evangelho (mesmo sendo um nome tão recorrente nos demais), o que nos leva a crer que ele se identificava por outro meio (o “discípulo amado”); (b) o fato de que neste evangelho João Batista era chamado simplesmente de “João”, o que sugere fortemente que o escritor queria que o apóstolo João fosse identificado por outro título.

13.27 entrou nele Satanás. O v.2 já diz que o diabo havia entrado no coração de Judas (v. nota), no sentido de colocar nele os seus propósitos malignos, mas agora era Satanás em pessoa que estava incorporado em Judas. A diferença entre uma coisa e outra nos mostra que há pessoas que não são possessas por Satanás, mas que mesmo assim são levadas a agir para o mal, enquanto há outras pessoas que são de fato possessas, de tal forma que perdem o controle de si mesmas e passam a agir exatamente como Satanás agiria dentro do seu corpo. É assim que surgem os maiores psicopatas, estupradores, assassinos e maníacos, que por si mesmos não fariam tudo o que fazem. Depois que Satanás conseguiu o que queria através de Judas e saiu dele, Judas caiu em si e devolveu as moedas de prata (Mt.27:3). Ele não deixou de ser influenciado pelo demônio (e por essa razão teve apenas remorso, e não arrependimento), mas é nítido o contraste a partir do momento em que ele passa a ser apenas influenciado, e não mais possesso.

13.33 para onde eu vou, vós não podeis vir. O verso 36 deixa entender que este lugar para onde Jesus iria era a cruz (morte em martírio), o mesmo lugar para onde Pedro iria mais tarde (v.36). A história conta que Pedro, no final da vida, foi martirizado numa cruz virada de ponta-cabeça a seu próprio pedido, pois não se julgava digno de morrer da mesma forma que seu Salvador.

13.34 novo mandamento. Não era “novo” no sentido de novidade, porque amar ao próximo era um preceito presente em todo o AT (Lv.19:18), mas sim no sentido de substituição. Os dez mandamentos davam agora lugar ao novo mandamento da nova aliança: o amor, que era o resumo de toda a lei (Gl.5:14), e por isso “aquele que ama o próximo tem cumprido a lei” (Rm.13:8).

13.36 depois me seguirás. V. nota em 13:33.

13.37 por ti eu darei a minha vida. Jesus estava mostrando o tempo todo que Pedro ainda era imaturo para trilhar o caminho do martírio, o mais alto e elevado grau de demonstração de amor incondicional a Cristo. Jesus estava profetizando que Pedro seguiria também este caminho (v. nota em 13:33), mas ainda não era o momento, pois Pedro ainda não tinha maturidade espiritual para isso. Quando Pedro tentou contradizer isso por se achar espiritual o bastante, Jesus deu-lhe o troco mostrando-lhe o quão sua fé ainda era fraca e superficial: ao invés de segui-lo até a morte, o negaria três vezes. Muitas vezes Jesus nos dá o mesmo choque de realidade que ele deu em Pedro: pensamos que já somos bem espirituais, até que Cristo mostre como nós realmente estamos, e nos humilhe por ainda vermos que falta muito para chegarmos àquilo que ele tem preparado para as nossas vidas.



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