As tragédias humanas e a mensagem dos profestas - Parte 02
Cristianismo

As tragédias humanas e a mensagem dos profestas - Parte 02





DEUS NÃO deixou sem resposta as queixas dos profetas. Pôs-se a falar, defendendo a maneira como dirigia o mundo. Desabafou. Explodiu. E eis o que disse:
“Não estou calado; venho falando através de meus profetas”. Temos a tendência de classificar as revelações de Deus de acordo com a impressão que causam; as espetaculares aparições "ao vivo" colocamos lá no topo, milagres sobrenaturais logo abaixo, e as palavras dos profetas lá embaixo. A bola de fogo no Monte Carmelo, por exemplo, parece mais convincente do que um dos lamentosos sermões de Jeremias. Mas Deus não reconheceu tal classificação. Numa inversão irônica, ele apontou para os próprios profetas — aquelas mesmas pessoas que questionavam seu silêncio — como uma prova de seu interesse. Como uma nação pode se queixar do silêncio de Deus quando tem pessoas como Ezequiel, Jeremias, Daniel e Isaías?

Deus não considerava "simples palavras" como uma prova inferior. Milagres, afinal, nunca tiveram um impacto muito duradouro na fé dos israelitas; mas os profetas gravariam um registro permanente, a ser transmitido de geração em geração, acerca das iniciativas de Deus para com seu povo. Algumas vezes Deus apontava para os milagres do passado como provas de seu amor, mas com mais freqüência dizia, exasperado, algo assim: "Desde o dia em que vossos pais saíram da terra do Egito, até hoje, enviei-vos todos os meus servos, os profetas, todos os dias, começando de madrugada, eu os enviei. Mas não me destes ouvidos nem me atendestes." Sua conclusão: na verdade o povo não desejava uma palavra do Senhor. Conforme eles próprios advertiram Isaías: "Dizei-nos cousas aprazíveis, profetizai-nos ilusões... não nos faleis mais do Santo de Israel."

Retirei de fato a minha presença.
Quando os profetas se queixaram acerca do escondimento de Deus, este não discutiu. Concordou com eles, e então explicou por que estava mantendo distância.
A Jeremias Deus expressou seu desprazer com o que via em Israel: ganhos desonestos, derramamento de sangue inocente, opressão, extorsão. Deus disse que cobria os olhos, recusando-se até mesmo a ver as mãos humanas estendidas em atitude de oração, pois essas mãos estavam cobertas de sangue.
A Isaías Deus garantiu que seu braço não era curto demais para salvar Israel, nem seu ouvido insensível demais para ouvir seus clamores, mas que havia dado as costas por causa da injustiça, das mentiras e da violência. Furioso com a avareza que tinham, Deus escondeu o seu rosto deles. A Ezequiel Deus explicou que, uma vez que as rebeliões de Israel haviam ultrapassado um certo ponto, ele simplesmente os entregou a seus pecados. Ele retirou-se, deixando que as pessoas escolhessem seu próprio caminho e arcassem com as conseqüências.
A Zacarias disse: "Visto que eu clamei e eles não me ouviram, eles também clamaram e eu não os ouvi."

Minha lentidão em agir é um sinal de misericórdia, não de fraqueza.
Quando Deus não punia rapidamente, o povo de Israel concluía que ele devia ter perdido seu poder: "Não é ele... Nenhum mal nos sobrevirá; não veremos espada nem fome." Estavam errados. O fato de Deus se conter marcou um intervalo de misericórdia, um "período de experiência" que ele estava concedendo a Israel. Com relutância, tal qual um pai sem qualquer outra opção, Deus então voltou-se para o castigo. Israel foi punido através de invasões estrangeiras. Mas os profetas também falaram do "dia do Senhor" no final dos tempos. Entre seus refulgentes relatos de um novo céu e uma nova terra estão algumas das mais aterrorizantes visões apocalípticas já relatadas. Antes que possamos ouvir a última palavra, disse Dietrich Bonhoeffer, temos de ouvir a penúltima palavra. E quanto mais estudo os relatos proféticos acerca dos últimos dias, mais satisfeito fico com a aparente "timidez" de Deus em intervir nos negócios humanos.
Deus abertamente admite que está refreando seu poder, mas ele se contém em nosso benefício. Para todos os zombadores que clamam por uma ação direta dos céus, os profetas têm uma palavra fatídica de conselho: Espere para ver!

Embora meus juízos pareçam severos, estou sofrendo com vocês.
Deus expôs aos profetas seus sentimentos mais profundos. Por exemplo, esta é a maneira como se sentiu acerca da destruição de Moabe, um dos inimigos de Israel:
“Por isso uivarei por Moabe,sim, gritarei por todo o Moabe.... Por isso o meu coração geme como flautas por causa de Moabe.

Uma única frase de Isaías resume o ponto de vista de Deus: "Em toda a angústia deles foi ele angustiado." Deus pode ter escondido o rosto, mas aquele rosto estava marcado, marejado de lágrimas.

Apesar de tudo, estou pronto para perdoar em qualquer hora que seja.
Com freqüência, no meio de uma severa reprimenda Deus parava — literalmente no meio de uma frase — e implorava a Israel que se arrependesse. Acabe, o mais ímpio rei de Israel, obteve uma outra chance após o Monte Carmelo, e então uma outra, e mais outra. "Não tenho prazer na morte do perverso", disse Deus mais tarde a Ezequiel. "Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que haveis de morrer, ó casa de Israel?" Ele contou a Jeremias que, se pudesse encontrar uma única pessoa honesta em Jerusalém, pouparia a cidade inteira.

Nada expressa melhor o anseio divino em perdoar do que o livro de Jonas. Contém somente uma única sentença profética: "Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida." Mas, para desgosto de Jonas, aquele simples anúncio de condenação deu origem a um reavivamento espiritual na cidade pagã de Nínive. E Jonas, carrancudo, debaixo de uma trepadeira ressequida, disse que o tempo todo havia suspeitado do coração mole de Deus. "Sabia que és Deus clemente, e misericordioso, tardio em irar-se e grande em benignidade, e que te arrependes do mal." De modo que a aventura louca de um profeta empacado, uma tempestade oceânica e uma escala imprevista numa baleia ocorreram porque Jonas não pôde confiar em Deus — isto é, não pôde acreditar que ele fosse cruel e inflexível para com Nínive.

Sentimento
Embora Deus respondesse diretamente às perguntas dos profetas, suas explicações não satisfizeram Israel. Conhecer a causa de uma catástrofe não reduz a sensação de dor e traição. E, na verdade, a "defesa" racional de Deus parece ter sido demasiadamente ligeira e resumida. Os profetas não estão tão interessados em questões intelectuais quanto no sentimento de Deus. Como é que é ser Deus? Para compreender, repare nas imagens humanas enfatizadas freqüentemente pelos profetas: Deus como pai e como amante.

Deus fez uso da infeliz história de Oséias para ilustrar as suas próprias emoções em frangalhos. Aquele primeiro impulso de amor quando encontrou Israel, disse Deus, foi como encontrar uvas no deserto. Mas, à medida que repetidas vezes Israel abalou a confiança de Deus, este teve de suportar o terrível constrangimento de um amante ferido. Suas palavras têm quase um tom de autocomiseração: "Para Efraim serei como a traça, e para a casa de Judá como a podridão."

Os profetas, e especialmente Oséias, comunicam uma mensagem acima de todas as outras: Deus é a pessoa traída. Foi Israel, não Deus, que tinha se prostituído. Os profetas de Israel expressaram uma profunda decepção com Deus, acusando-o de agir à distância, sem envolvimento, calado. Mas, quando Deus falou, ele derramou emoções acumuladas durante séculos. E ele, não Israel, foi a parte verdadeiramente decepcionada.
"De que outra maneira procederia eu?" Ou, em outras palavras, "Que mais posso fazer?" A pungente pergunta de Deus a Jeremias ressalta o dilema de um Deus onipotente que deu espaço à liberdade. As andorinhas nos céus conhecem as estações, a maré chega na hora certa, a neve sempre cobre as montanhas elevadas, mas os seres humanos não se parecem a qualquer outra coisa na natureza. Deus não quer controlá-los. Por outro lado, ele é incapaz de simplesmente deixá-los de lado. Ele é incapaz de apagar a humanidade de seu pensamento.
*
Referências bíblicas: Jeremias 7; Isaías 30; Jeremias 5; Isaías 57; Ezequiel
20; Zacarias 7; Jeremias 5, 48; Ezequiel 36; Isaías 63; Ezequiel 33; Jonas 3-4;
Jeremias 31, 5, 2; Oséias 9, 5; Jeremias 9.
* * *
Nenhum resumo dos profetas seria completo sem uma mensagem final: sua insistência, em voz alta, de que o mundo não acabará numa "derrota final universal", mas em Júbilo. Falaram em épocas agourentas a ouvintes tomados de temor, e freqüentemente suas terríveis predições de secas e pragas de gafanhotos e exércitos inimigos alimentavam esse temor. Mas sempre, em cada um de seus dezessete livros, os profetas do Antigo Testamento finalmente chegavam a uma palavra de esperança. O amante ferido irá se recuperar da dor, promete Isaías:"Por breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias torno a te acolher."

As vozes dos profetas soam como pássaros canoros quando por fim voltam-se para descrever o existente além dos muros do mundo. Naquele último dia, Deus enrolará a terra tal qual um tapete e o tecerá de novo. Lobos e cordeiros se alimentarão juntos no mesmo campo, e um leão pastará em paz ao lado de um boi. Um dia, diz Malaquias, saltaremos como bezerros soltos do estábulo. Nessa ocasião não haverá qualquer medo, nem qualquer dor. Nenhum recém-nascido morrerá; nenhuma lágrima escorrerá. Entre as nações a paz fluirá como um rio, e de suas armas exércitos fundirão ferramentas para a lavoura. Ninguém queixará do ocultamento de Deus naquele dia. Sua glória encherá a terra, e o sol, em contraste, parecerá escuro.

Para os profetas, a história humana não é um fim em si mesma, mas um período de transição, um parêntese entre o Éden e o novo céu e a nova terra que ainda serão formados por Deus. Mesmo quando todas as coisas parecem fora de controle, Deus está firmemente no controle, e algum dia reivindicará a sua autoridade.





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