A polêmica calvinista na Assembleia de Deus
Cristianismo

A polêmica calvinista na Assembleia de Deus


As recentes discussões na internet de pastores assembleianos sobre a teologia arminiana e calvinista, têm gerado algumas polêmicas, principalmente após o conhecido pastor e escritor Geremias do Couto posicionar-se como "calvinista convicto".

Porém, na década de 1930, as Assembleias de Deus já haviam se deparado com essa problemática. Segundo consta em sua história, no ano de 1932, Manoel Hygino de Souza, pastor da AD em Mossoró (RN) aderiu a "predestinação calvinista", sendo acompanhado por Ursulino Costa. Tempos depois, seu irmão Luiz Hygino também se incorporou ao grupo. A Convenção Geral chegou a enviar uma comissão de obreiros para tratar do caso, mas sem sucesso, pois Manoel Hygino afirmou manter integralmente seu ponto de vista teológico. Segundo a história oficial, uma vez excluídos, os "rebeldes" iniciaram em Mossoró a Assembleia de Cristo (atualmente Igreja de Cristo).

Entretanto, outra é a versão apresentada para o desentendimento dos obreiros por um site da Igreja de Cristo. Segundo os membros do grupo dissidente teria sido uma "divergência doutrinária" entre Gunnar Vingren e Samuel Nyströn a respeito da salvação, o real motivo desencadeador das discussões soteriológicas. Em continuação se afirma que, a CGADB em Natal (RN) em 1930 foi o "primeiro passo histórico, que evidenciou a divergência doutrinária existente". Divergência essa comprovada pelo fato de Vingren no Rio de Janeiro criar o jornal Som Alegre e o hinário Saltério Pentecostal.

Contornados os problemas entre Vingren e Nyströn - segundo essa versão - as contradições teológicas ainda continuaram no Mensageiro da Paz com textos que, ora defendiam a segurança da salvação através da fé, ora colocavam em dúvida essa mesma salvação. Um exemplo citado é um texto do missionário Nils Kastberg, onde o mesmo dá a entender que a salvação estaria condicionada ao dízimo. Hinos também são citados como fonte de confusão doutrinárias, causando "um grande choque entre os irmãos que pediram uma explicação".
Manoel Hygino: calvinismo e exclusão
Temerosos de errar na doutrina da "segurança e salvação eterna do crente genuíno", os irmãos elegeram Manoel Hygino como mediador, o qual em carta enviada ao missionário Kastberg, sugere uma convenção para tratar do assunto. Mas a resposta, além de demorada foi negativa. Na missiva Nils Kastberg, teria escrito que estava "de acordo com os ensinos da salvação condicional, e quem estivesse aborrecido que saíssem para onde quisessem...”

Como não poderia deixar de ser "diante desse impasse, e por não ter outra alternativa, todos os líderes acima mencionados, devolveram voluntariamente suas credenciais de Obreiros, à liderança da Assembleia de Deus, respectivamente de Pastores, Presbíteros e Evangelistas". No dia 13 de dezembro de 1932, o grupo dissidente fundou a Assembleia de Cristo em Mossoró.



Toda essa história evidentemente se choca com os relatos oficiais da CPAD. A versão, um tanto inusitada dessa questão foi dada pelo pastor João Vivente de Queiroz, o qual foi pastor da Igreja de Cristo em Fortaleza de 1946 a 1997. O depoimento coletado por David Marroque Teixeira foi publicado no Boletim Informativo da Região Oeste-RN., nº 09 de fevereiro de 1985.

Segundo os estudiosos das ADs no Brasil, a CGADB de 1930 tratou principalmente da questão do ministério feminino, o qual foi o grande desentendimento entre Vingren, Nyströn e os obreiros brasileiros. Mas é certo que Gunnar no Rio de Janeiro estava dando outros rumos para a igreja carioca, fato esse que estava desagradando os demais líderes da AD.

Mas também é fato que muitos dos primeiros crentes da AD tinham origem em igrejas evangélicas tradicionais como a Presbiteriana, conhecida por defender a doutrina calvinista. Manoel Hygino, além de ser pioneiro na região norte e nordeste era também muito próximo a Gunnar Vingren no início do seu ministério, e como os outros líderes era experiente na liderança ministerial. Sua adesão ao calvinismo causou surpresas.

Agora, após sete décadas da questão calvinista na AD, o tema ressurge com força nas redes sociais e blogs. O assunto talvez nunca tenha desaparecido, mas simplesmente abafado pelos principais pastores e expoentes das ADs. Em tempos de internet, aquilo que no passado era "tratado e resolvido", agora é fonte de debates abertos entre os estudiosos dos temas soteriológicos. Um bom debate com certeza.

Fontes:

ALENCAR, Gedeon Freire de. Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011. Rio de Janeiro: Novos Diálogos, 2013.

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.


www.genibau.com.br/principal/nossa_historia_nacional.htm


Fonte (blog Memórias Assembleianas) via, mulheresabias.blogspot.com.br/

Meu comentário: Engraçado, parece que li algo recentemente semelhante a essa resposta que o missionário Nils Kastberg deu a 80 anos atrás! Há uns cinco anos atrás concedi uma entrevista a um blog sobre o assunto doutrina da salvação, onde afirmei o seguinte, em resposta a pergunta sobre qual era o meu posicionamento acerca da salvação (eleição, livre-arbítrio, predestinação):

Resposta: "Eu fico lendo as pessoas que brigam em suas apologias pelo calvinismo ou armenianismo. Esse tipo de discussão, na maioria das vezes é infrutífera, até porque o assunto é antigo, vem desde Agostinho/Pelágio, depois Calvino/Armínio. A polarização mais atrapalha do que ajuda, principalmente quando se parte para o modo radical com a dinâmica da salvação. Minha formação teológica é armeniana, mas admito que tenho dificuldades com ambas as teorias teológicas. Não consigo compreender uma salvação fácil de perder, mas também resisto à idéia de uma predestinação fatalista (conforme meu último post)". 





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