15 de março: eu não vou
Cristianismo

15 de março: eu não vou


                            
Vi o banner acima ontem, pela primeira vez, no blog da jornalista Cristina Moreno de Castro (http://www.otempo.com.br/blogs/blog-da-kikacastro). Não sei quem o criou. Eu gostei, compartilhei pelo Twitter.
Concordo com ela quando disse que ficou com a impressão de que nem todo mundo bateu panela e gritou "Fora Dilma" na janela de casa no último domingo...
Depois escreveu o seguinte, antes de compartilhar: "Democracia é aceitar o que uma maioria quis e trabalhar/cobrar para que dê certo para todos. Quatro anos depois, escolher livremente o candidato favorito, mais uma vez. E assim por diante".
Claro que, dentro do "cobrar", do parágrafo acima, cabe também protestar. É legítimo protestar. É legítimo fazer buzinaço, panelaço, vaiar (embora, que pena, muitos tenham optado por xingar baixarias contra a presidente da República, em pleno Dia Internacional da Mulher). Tudo isso, felizmente, é permitido e só pode acontecer porque ainda vivemos numa democracia.
Dilma saindo, por um impeachment, quem assumiria em seu lugar? Michel Temer, o vice-presidente, que é do PMDB. Mesmo partido de Renan Calheiros e Eduardo Cunha, que dispensam apresentações.
O pior é que não é nem isso que quer um grupelho que estava quieto há 30 anos e, com esta gritaria, voltou a ressurgir das trevas. Esse grupo, que já tem milhares de seguidores só em umacomunidade do Facebook, defende nada mais nada menos que a intervenção militar. E aí, bye-bye panelaço, buzinaço. Que seria do futuro? Imprevisível. E não algo que possa ser planejado ou reformulado num novo pleito, em quatro anos, como acontece hoje.
O horizonte passa a ser obscuro quando deixamos de viver numa democracia. Assim como essa instabilidade do período qualquer possibilidade de tomar rumos que melhorem o Brasil. Vira só uma grande histeria, cada dia mais radical e intolerante, e menos aberta a divergências.
É isso que você quer? Eu não. Por isso, me abstenho de participar dessa marcha do dia 15. Não pela marcha em si: é muito válido criticar a presidente, que está deixando muita gente insatisfeita, inclusive vários que são até filiados ao seu partido, o PT. Mas pelos que estão se aproveitando da marcha para gerar histeria e, com a histeria, criar o ambiente certo para um golpe, como aconteceu há 50 anos no Brasil (e, também daquela vez, começou com "marchas").
O Brasil vive um momento difícil com a economia parada, dólar e inflação subindo, desemprego voltando a crescer. A presidente Dilma, numa linguagem do boxe, está recebendo muitos golpes nas cordas do ringue, e com torcida de muita gente para que vá a lona nocauteada por um impeachment. Há meses, todos os dias, os jornais televisivos, escritos e na internet, tem como matéria principal as denúncias envolvendo a maior estatal brasileira, a Petrobrás, num jogo que envolve funcionários de alto escalão, empreiteiras e favorecimento a partidos políticos. Um escândalo político de grandes proporções sem dúvida.
Agora dizer que este é o maior caso de corrupção do Brasil, eu já fico como bom mineiro ressabiado quando ouço ou leio isso. É bom consultar uma velha senhora chamada “História”. Infelizmente a corrupção está presente em nossa história desde a colonização portuguesa, passando pelo Brasil Império e depois a República. O jurista e historiador Raymundo Faoro é autor de Os donos do poder, obra que aponta o período colonial brasileiro como a origem da corrupção eburocracia no país colonizado por Portugal, então um Estado absolutista. De acordo com o autor, toda a estrutura patrimonialista foi trazida para cá. No entanto, enquanto isso foi superado em outros países, acabou sendo mantido no Brasil, tornando-se a estrutura de nossa economia política.
Em 1954, Getúlio Vargas se suicidou em vez de ceder as pressões por sua renúncia, sob escândalos de que havia “um mar da lama”. Em 1960, Jânio Quadros se elegeu presidente usando uma vassoura como símbolo para varrer a corrupção do Brasil. No ano seguinte, meses depois de sua posse renunciou, dando início a um período de instabilidade política que culminaria com o golpe militar de 1964.

No blog do Fernando Rodrigues (http://fernandorodrigues.blogosfera.uol.com.br/), há uma matéria interessante para quem acha que a corrupção entre empreiteiras e governo começou ontem ou anteontem. Vale olhar o decreto presidencial 64.345, de 10 de abril de 1969. O então presidente Artur da Costa e Silva (1967-1969) fechou com uma canetada as portas para empresas estrangeiras em obras de infraestrutura no Brasil. A partir desse decreto de 1969 criou-se uma reserva de mercado para empreiteiras nacionais. Prosperaram assim muitas das que hoje estão encrencadas no escândalo da Petrobras revelado pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

Esse decreto da ditadura vigorou até 14 de maio de 1991, quando o então presidente Fernando Collor o revogou. Mas parece que já era tarde. As empreiteiras nacionais já operavam de forma a impedir competição estrangeira – ou mesmo para alguma empresa de fora do grupo das principais nacionais.

Só para lembrar, até o final dos anos 60, a atual gigante Odebrecht era apenas uma empresa local da Bahia. Depois do decreto de Costa e Silva, despontou para o sucesso construindo o prédio-sede da Petrobras no Rio de Janeiro (em 1971), aproximando-se dos militares que comandavam a estatal, conforme relata reportagem de Marco Grillo, que buscou as informações no livro “Estranhas catedrais – As empreiteiras brasileiras e a ditadura civil-militar” (Editora da UFF, 444 pág., 2014), resultado da pesquisa para a tese de doutorado “A Ditadura dos Empreiteiros”, concluída em 2012 pelo professor Pedro Henrique Pedreira Campos, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Na tese de Pedro Campos, o autor demonstra que, “após o governo Médici”, a Odebrecht “com sua atuação junto aos militares presentes na Petrobras, arrematou 2 contratos que alteraram significativamente o seu porte, fazendo seu faturamento triplicar em um ano. As vitórias nas concorrências para construção do aeroporto supersônico do Galeão [no Rio] e da usina nuclear de Angra levaram a empresa do 13º ao 3º lugar na lista dos 100+”. Foi escolhida pelo setor como empreiteira do ano em 1974.

Antes de a ditadura militar consolidar a reserva de mercado para as empreiteiras nacionais, a tese do professor Pedro Campos mostra que havia um domínio de empresas estrangeiras no Brasil:
“No início da década de 70, as coisas começaram a mudar drasticamente, como demonstram esses gráficos a seguir, com a evolução das empreiteiras Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Mendes Júnior e Odebrecht no ranking das maiores do país”.

A tese “A Ditadura dos Empreiteiros” traz dois quadros reveladores sobre como o dinheiro das obras públicas serviu para construir gigantes nacionais que concentravam o naco principal do dinheiro público:
“A simbiose entre o público e o privado na época da ditadura se dava com a colocação de militares em cargos de direção nas empresas que forneciam para obras de infraestrutura. Os generais iam parar em diretorias e conselhos de grandes corporações”.

Em resumo, como se observa, a gênese do problema que hoje está sendo desvendado pela Operação Lava Jato vem de muito longe. Há autores que dizem que o casamento entre empreiteiras e o poder não começou nem no regime militar e sim no governo JK, com a construção de Brasília.

Nenhum governo civil (Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula e Dilma) conseguiu, até hoje, reduzir o poder das grandes empreiteiras. Ao contrário, essas empresas e os grandes Bancos também, se transformaram em verdadeiros leviatãs, fazendo de tudo, inclusive financiando as campanhas eleitorais dos principais políticos do país.

O fato de as anomalias serem antigas em nada alivia a responsabilidade do governo atual – que terá o ônus de promover a faxina há muito demandada nessa área.

Portanto no dia 15 de março, em vez de ir atender o apelo do Pr. Silas Malafaia e ir para as ruas protestar, farei como o Pr. Claudionor de Andrade, escreveu no portal CPAD NEWS:

“O que você fará no dia 15 de março? Quanto a mim, não sairei às ruas a protestar, mas entrarei no meu quarto a orar e a interceder por meu país. Não sou contrário aos protestos. Mas, como haverá muitas vozes gritando palavras de ordem, reservar-me-ei à ordenança do Mestre: “Orai sem cessar”. Ninguém me ouvirá a voz. O Senhor, todavia, haverá de atentar a cada gesto emudecido meu”.






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